Também se apanhava castanha e eu tinha muito castanheiro, mas queimou-se-me tudo. Não tenho nenhum. Tinha 14 castanheiros e não tenho nenhum. Já eram velhos e meteu-se o lume nas tocas, assim por baixo da terra, botou abaixo, ficou tudo ardido. Mas já não foi agora, da última queima, foi da primeira. Há-de haver aí uns 20 e tal anos. Já foram duas queimas que aí andaram. E agora desta segunda queima acabou com tudo. Veio até a aldeia.
Ao meu filho, o meu António, foi tudo embora. No parque, tinha lá tudo. Tinha lá dois carros de mão, tinha ainda a carrinha cheia de lenha, ainda nesse dia tinha ido à lenha. Foi trabalhar e quando chegou de trabalhar tinha-se-lhe ido tudo embora. Viu-se sem nada. A lenha e tudo. Foi-se tudo embora. Teve de começar de novo. Tinha lá ferramentas, tinha lá a motosserra e o carro ligeiro. Foi-se tudo embora. Eu fui mais o meu filho a uma palheira, que é onde tenho o gado. Se não vou para lá mais ele queimava-se tudo. O gado já não o tinha. Estava com medo disso e já o tinha trazido cá para o povo. Mas ficáramos só na palheira. Era eu a encher a água, em baixo na levada, e ele a deitá-la lá de roda da palheira. Muito a gente lá trabalhou.
Depois queriam que a gente da aldeia fosse toda embora. Se ia tudo embora até as casas se queimavam, chegava a gente à aldeia com tudo abrasado. Mas alguma gente ainda foi para Côja, e para Arganil. Eu não fui. Também queriam que eu fosse, mas eu não fui.
Antigamente não havia assim incêndios. Mais tarde ou mais cedo, torna a ir. Agora ainda é pior, que agora é só lenhas no chão. Está tudo seco.