Por causa das castanhas queimou-se a minha Ana. Na tal casa onde o meu pai estava, onde eu me criei, primeiro tinha um caniço. Um caniço é o forro no tecto, às ripas. Então botávamos lá as castanhas naquelas ripas. Secávamo-las e quando estavam secas pisavam-nas num canastrão. Coziam-se todo o Inverno. Aquelas que tinham mais casca, não é a casca de fora, é uma que tem por dentro, a gente coava-lhe a água e a gente comia assim, descascadas.
As outras fazia a sopa delas. Tirava-lhe a casca com água a ferver. Algumas já ficavam sem casca, daquela por dentro. Era o que a gente comia e era uma comida forte. Alimentava. A sopa de castanha levava arroz. Se a gente lhe queria botar uma mão de arroz, também se lhe podia botar. E botava-se só um bocadinho de sal. Não levava azeite nem nada. Comia-se bem. Muito boa aquela sopa. Se fosse agora não comiam.
Chamava-se gente para cavar as fazendas. E era o que se levava para o almoço, era castanhas. E azeitonas. As azeitonas curtidas. Comiam as azeitonas com as castanhas, sardinha frita e couves com batatas. Era assim o almoço.