Eu era pequenina, tinha aí uns 7 anos e já andava a trabalhar no campo. Trabalhei sempre no campo. Quando vim do Tojo já vinha farta de trabalhar. Lá tinha muitos animais. Tinha ovelhas num curral, tinha cabras noutro, tinha o porco também e tinha galinhas. Apanhei muita molha a botar as cabras. Era uma cabrada. Lá é que vendiam queijos. Iam-se levar a Cebola. Ainda fui lá levar uma data de cestos deles. Lá vendiam-se, aqui na aldeia nunca.
O meu pai quando era do tempo da rega, não havia relógio, ia gritar ao cemitério, que ele regava numa fazendita que chamavam a represa. Era tapada a água às oito horas até às nove, tinha só uma hora. E sendo oito horas era:
-“Tapa a água!”
E ia lá outro:
- “Tapa a água!”
Era assim que a gente fazia.
Nós primeiro íamos gritar ao outeiro. Eu escutava as oito horas porque davam na torre, assim como dá agora. Estando a dar as horas ia lá gritar:
- Olhe tapai a água!
E dali iam tapar. Tapava lá na levada. Estavam já à espera.
A seguir já era de outro. Em passando aquela hora, já era de outro. Aquela água era por horas. São três levadas que a gente tem a correr. São todas por horas. Cada um tem o seu tempo. Então não se pode regar no tempo dos demais. Porque já se sabe, querem regar os donos.