O meu pai chamava-se António da Silva e a minha mãe Maria Felismina. Lembro-me de muita coisa deles. Trabalhavam no campo. Eles trabalhavam na agricultura e eu também continuei a ir, até depois da tropa. Trabalhavam, cavando a terra. O trabalho aqui foi sempre muito puxado. Felizmente, para coisas de luxo não, mas do que dava a agricultura cá do sítio, nós tínhamos que chegasse para comer.
A gente, todos os dias, a primeira coisa que fazia logo de manhã era levantar-se, pegar numa corda com um podão ao ombro e ir ao mato. Pegar numa corda, um podão, o capucho, pôr ao ombro e ir lá em cima à serra à Peneda Redonda, que a gente chama. Um podão é uma coisa de roçar o mato. Com isso é que se roçava. Roçava-se um molhinho de mato e trazia-se às costas para pôr nos animais. Era assim a vida.
O serão em família era passado à conversa. Eu vivia perto de uns tios meus, que eram irmãos da minha mãe. Quando era no Inverno, juntavam-se. Se estava a chover, juntavam-se à cozinha a queimar lenha. A gente era assim: de Inverno era sempre na cozinha. Queimava-se lenha. Ali na conversa até à meia-noite e às vezes até mais. O comer à noite chamava-se a ceia. Ceava-se às nove, dez horas. Fora disso juntavam-se. Eu morava ali perto da capela de São Pedro. Morava e moro. Juntava-se ali a minha mãe, os meus tios, um senhor que era o tio Martins e um outro senhor que era o senhor António Silva. Ali na conversa todos. Havia o hábito. Vinham das terras, do trabalho, sentavam-se ali a conversar e daí é que iam preparar a ceia para se ir comer. Só a essa hora. Na parte do Verão, na própria povoação em qualquer rua que se passasse, estavam os vizinhos juntos uns com os outros na conversa até às nove, dez horas.