Há pessoas que sabem explicar porque puseram este nome. Segundo o que dizem, a povoação primitiva não foi aqui. Era mais para baixo. Antes, foi lá abaixo nas Casas Piódão. Chamam lá as Casas Piódão. Daí, veio cá para cima. Até dizem que a origem disso foi o mel. Lá baixo era mais quente e as formigas metiam-se nisso. Não sei se era se não. Também não sei explicar. Era aí. Mesmo assim, já tem muito ano isto. Já tem muito aninho! Há aqui casas com muito ano. Aqui onde está o largo da igreja, eram terras de cultivo. Era uma rua estreita, diferente do que está agora. Ia direito ali à igreja. O largo maior que tínhamos era aquele lá adiante à beira do restaurante.
A minha casa nunca teve a porta azul. Era pintada, mas não era azul. Era um castanho-escuro. Mas o azul foi sempre o que se cá usou no Piódão. Havia poucos que não fossem. Tradição. Quem não pintasse a porta e os caixilhos das janelas de azul, já não estava bem. Portas e os lados das janelas de azul e o resto branco.
Quando veio a luz, já não se espantaram muito, porque já havia nestas terras aqui à volta. Foi igual com a televisão. Já ninguém se admirou, porque já havia nas outras terras. Nessa altura, já uma grande parte tinha visto.
A princípio, a luz era com um candeeiro a queimar azeite. Com as lanternas, com as candeias. Punha-se um bocadinho de trapo torcido - chamava-se a torcida -, acendia-se o fósforo e era aquela luz que havia. Mais tarde, veio o candeeiro a petróleo. Quem tinha de regar esses bocados de noute, iam regar com essa lanterna a queimar azeite. Era assim a vida.
Antes, só havia esses chafarizes. Mas havia aquelas nascentes em volta do povo, que sempre houve. Ali debaixo do posto de turismo, há um nascente de água. E boa. Iam apanhar a água nesses sítios. Daqui de baixo é que está a água a sair ali para o barroco. Também era boa. Ainda hoje lá vão algumas pessoas para beber. Na altura no Verão, também lá ia. Mais tarde, parece-me que em 1939 ou 1940, puseram estes chafarizes. Mas foi água tirada na mesma calda. Ao cimo do povo é que a canalizaram. Antes, não. Iam buscá-la a estas fontes, que eu estou a dizer. A Fonte dos Algares é que era o sítio de se ir à água. Era outro ali em diante e outro ali em cima. Mais tarde, puseram estes chafarizes, já em 1940, se não estou em erro. Está além escrito no fontanário. Foi quando eu nasci.
As casas de banho era em volta do povo nos bocados. Era ao ar livre. Até vou contar uma muito boa. Geralmente, a pessoa tem sempre a coisa de ir fazer as suas necessidades logo de manhã. Eu ia ali acima para um bocado que temos, a que chamam o Cimo do Chão. Ia-se à ponta do cômoro e só se via mulheres com o cu branco por ali abaixo. Era assim a vida. As casas de banho eram todas em volta da povoação, não é como agora. Era no campo. Uns levavam um papelinho disto, outros daquilo e alguns até limpavam a umas folhas de umas ervas quaisquer que houvesse ali à mão. Não havia outra coisa. Não havia cá papel higiénico. Nem cá, nem aqui à volta em lado nenhum.