Agora, aqui no Piódão, a vermos bem, até não está mau. Está um bocado mal a respeito de médicos. Com tanto dinheiro que tem vindo para cá, já era tempo de quem manda nisto - a Câmara ou seja aquilo que for - pensar em fazer aqui uma coisa qualquer que prendesse as pessoas que vêm visitar. Não ser só chegar aqui, olhar para este monte de pedras e dizer:
-“Está tudo visto, vamos embora.”
Não há aqui nada. Tanto dinheiro que para aqui já saiu. A gente vai a outras terras ou têm uns jogos ou têm isto ou têm aquilo. Até que não fosse mais, podiam ter aí um viveiro de peixes, de trutas. Já chamava gente para aí se entreterem. Até com um curso ou aqueles concursos que há de pesca, uma coisa qualquer. Era o que eu gostava de ver aí. Algo que prendesse mais as pessoas. Era já tempo! A gente vai a outras terras aí da serra, vê-se coisas que prendem as pessoas. Havia de haver aí qualquer coisa para isso. Não se vê nada. Não sei lá de quem é a culpa. Minha não é. De resto, até nem está mau.
Os turistas foram quem valeu a isto. Se não fossem os turistas, isto já estava aí tudo botado abaixo. O Piódão já tinha morrido. As pessoas tinham-se ido quase todas embora. Os pais morreram. Eles estão por Lisboa, vão reparando estas casitas como se vê, por dentro. E vêm aí quase todos os anos. Ainda se vão juntando. Já foi mais do que agora. Agora, vêm cá oito dias e vão-se embora. De qualquer maneira, o turismo foi bom para isto.
Só foi pena não ter vindo há 40 ou 50 anos. Isto hoje tinha cá muita gente a viver e assim não tem cá ninguém. Muita gente foi daqui para Lisboa perguntar a vida. Se isto tivesse sido feito há mais anos, não tinham saído e tinham aqui constituído a sua vida, tinham aqui tido os seus filhos, tinham aqui tudo e iam ficando. Mas nessa altura não havia nada... Tinham que ir à procura da vida. Naquela altura era assim: casavam-se, a mulher ficava cá a tratar dos bocados e o marido ia para Lisboa ver se ganhava alguma coisa. Vinha cá de dois em dois meses, três em três meses, meio em meio ano. Era quando eles arranjavam filhos mais depressa. Era assim, é a vida.