Eu, com 17 ou 18 anos, ou até antes, já andava atrás das raparigas para ir para um lado e para o outro. Isso para onde eu ia era sempre palheta com elas. Quando a gente começou a ser novo, começou a ter 15, 16, 17 anos, entretinha-se ali no rio em baixo, no barroco. As raparigas iam para lá lavar a roupa e a gente entretinha-se na palheta com elas até à tarde. À tardinha, ia-se buscar o molho de lenha para queimar no Inverno. Noutras alturas, quando se iam deitar as cabras para esses outeiros “pia cima”, juntávamo-nos todos. Rapazes e raparigas, aquilo até era uma festa, uma paródia uns com os outros. O dia passava-se que era num instante. Andava-se lá. À noite, regressava-se cá à povoação. Ia-se meter o gado, as cabras no curral, que se tinha, e daí vinha-se para casa. Comia-se qualquer coisa e juntavam-se aqui adiante num largo que havia ali. Os rapazes passavam horas e horas na conversa uns com os outros. Até certas alturas, havia alguns que cantavam, tocavam uma gaita, uma flauta e aquilo tudo. Era assim a vida cá. Muito trabalhosa, mas um pouco mais divertida que agora, mais alegre.
A vida foi sempre andando. Escusado será dizer que essas coisas a gente é que sabe como é que era. Mas era assim. A gente, supomos, começava a namoriscar aí com uma rapariga. À noite, nesses cantos assim mais escondidos da povoação. Punha-se ali na palheta, a conversar uns com os outros. Se vinha de vir o pai ou a mãe, fugiam. Não é como agora.
-“Vem aí o teu pai, vem aí a tua mãe, vai embora.”
Agora, não. Agora, é tudo diferente. Naquele tempo era tudo sempre às fugidas.