Depois de fazer a escola, fiquei aqui na mesma. Fiquei cá na povoação. Ao fim, é que se começa a trabalhar mais, porque, quando se andava na escola, a gente ainda folgava aquele tempo. Com 14 anos, comecei a trabalhar no duro. Naquela altura começava-se cedo, para se ganhar alguma coisa. Fui para a Malhada Folgarosa cortar mato na floresta. O encarregado era um senhor do Soito da Ruiva, Fernando Lopes. No fim de andar dois ou três dias:
-Então e como é? O meu ordenado?
-“O teu ordenado vai ser igual ao dos outros homens. Tu mereces o mesmo que eles merecem, fazes igual!”
E era. Ganhava o ordenado que ganhava um homem, porque fazia o trabalho de uma pessoa adulta. Havia malta de cá da terra, com a minha idade, que tinha um ordenado mais baixo, porque não davam o rendimento preciso. Eu sempre fiz por isso. Fui sempre prezado por isso.
Comecei a ir para as estradas, para a floresta, para um lado e para o outro. Não é para me gabar, mas para esses trabalhos, fui porque queria. Não que me mandasse o meu pai nem a minha mãe. Queria ir junto com os outros. Fui para a estrada e para a floresta cortar pinheiros, aí para um lado e para o outro. Começaram a cortar os pinhais para as serrações. A gente a cortar os pinheiros, eram 20 escudos cada metro. Cortá-lo, cascá-lo e empilhá-lo. Andei aí junto com os outros numa mata da Junta da Vide em Balocas. Íamos à segunda e vínhamos ao sábado. Ficávamos lá toda a semana. Dormíamos no meio do mato. Fazíamos o comerzinho e lá comíamos e dormíamos. Era assim.
Também andei na estrada lá por trás da serra. Não é aquela quando se vem de Côja. É aquela que vai daqui, tem aquelas curvas enroladas e ao fim se vira para o Vale de Maceira. Ajudei a fazer essas curvas aí “pia baixo”. Umas vezes, era com uma barra a minar. Outras vezes, uma picareta... Uma vez, passei lá e pensei:
- Quem me dizia a mim que eu ajudava a fazer isso e que passava aqui ao fim, mais tarde, com um carro?
Naquela altura, se me dissessem isso, eu dizia que era mentira. A vida modifica-se muito. Ajudei a fazê-la e ainda foi um bocado bom. Foi dali até lá em diante ao Vale do Espinha. Andei lá a trabalhar, também. Trabalhei aí até aos 18 anos. Foi sempre uma vida dura até que chegou a altura de ir à inspecção.