Para ir buscar água era nos chafarizes públicos. Tínhamos um no fundo da aldeia, que ainda existe. Tinha uma nascente na ribeira, junto ao largo. Tinha outro a meio da povoação, junto à capela de São Pedro. Tinha outro fontanário público a caminho do Outeiro, que fica a caminho do cemitério. E tinha um nascente de água, junto à mina, que se chama o Cimo do Chão, mesmo no alto da povoação. Portanto, as pessoas que moravam no alto da povoação iam a essa nascente ou à fonte da capela de São Pedro. Tem a Fonte dos Algares também. Está sempre a correr a nascente. Cada um abastecia-se com o que estivesse mais próximo. Era com os cântaros de barro e de plástico mais tarde. Era assim para fazer a comida e para se lavarem. Aquecia-se a água, numa grande panela e era assim que se conseguia tomar os banhos, numa grande bacia, tipo banheira de plástico. Não havia outra hipótese. Quando era miúdo, lembro-me de a minha mãe dar-me banho dentro de um grande alguidar. Amornava-se a água no Inverno, no Verão até era com água natural, conforme estava mesmo fresca. Era assim que se desenrascava a situação. Cada um mudava a sua água. Tomava um banho, depois o outro ia com o cântaro à fonte e tomava esse. Dava-se prioridade aos mais pequeninos, para dormirem mais cedo. Mas não tomávamos banho todos os dias, confesso. Se a gente andava a ajudar os pais num trabalho que era mais sujo, do campo, que ficássemos cheios de poeira, tomávamos. Mas se fosse um trabalho, que nós fossemos para a escola e depois viéssemos aqui fazer um trabalho que não fosse tão sujo, podia nesse dia a criança vir mais cansada e deitava-se em cima da cama e acabava por se esquecer do banho. E a mãe também, muitas vezes, vinha cansada do trabalho e não havia muita disposição para dar banho às crianças. Mas quando éramos maiores, já nós próprios tomávamos banho. Já não era preciso a mãe estar com tanto cuidado. E, naquele tempo, as crianças tinham de começar a ter uma autonomia mais cedo. Não havia tanto tempo para apaparicar as crianças e dar-lhes banho com tantos cuidados. As crianças tinham-se de desenrascar quase por si próprias, a partir de uma certa idade, e de tenra idade. Quando era no Verão, o banho era na ribeira. Era lá que íamos mergulhar, e tomávamos banho.