Mesmo antes de existir a energia eléctrica directa, já havia uma pessoa que eu me lembre, que era o dono da mercearia, que depois o meu pai adquiriu, que tinha umas baterias. Ele tinha uma camioneta de caixa aberta e trazia-as. Ele tinha uma pequena televisão, em cima de uma prateleira, e ligava as baterias. Mas tinha de ser com uma antena no cimo da povoação, porque a recepção era má. Não tínhamos retransmissor na zona e a imagem que chegava, chegava um bocado distorcida. Para nós era uma novidade. Os miúdos à noite vinham sempre dar uma espreitadela, ver a televisão que estava na mercearia, porque não havia em mais lado nenhum. Portanto, aquilo para nós era uma coisa fora do normal. Estávamos habituados a ouvir o rádio, que os pais tinham em casa. Ouvia-se as notícias, ouvia-se o futebol. Éramos pequeninos e já gostávamos de ouvir o futebol, mas não havia imagem. Não se conseguia ver. E quando começou a aparecer essa televisão aquilo era... Os miúdos, principalmente, ficavam curiosos. Ouvíamos as pessoas a falar na rádio, e depois aparecia a imagem delas na televisão. Muitas vezes associavam a voz a um tipo de pessoa mas depois quando víamos na televisão nem parecia ser a mesma. Aquilo foi engraçado enquanto miúdos. Era bastante interessante. O programa de televisão que me lembro é o Tele-Futebol. Mas isso já foi na altura da televisão com energia directa. Eu em casa não tinha. O meu pai não tinha possibilidades. Mas havia um senhor que tinha vindo de Lisboa há pouco tempo, estava reformado, e lembra-me que ele tinha lá televisão. E nós éramos miúdos e já gostávamos de ouvir um relato de futebol. E quando dava o Tele-Futebol à noite, para dar um resumo de alguns jogos mais importantes, eu lembro-me que juntávamos aí três ou quatro miúdos com 10, 11, 12 anos e íamos para lá ver. Principalmente, os programas desportivos gostávamos de ver enquanto miúdos.