O ano em que entrei para a primária foi o mesmo da inauguração da cantina. Tínhamos uma cantina em que as pessoas da aldeia, voluntariamente, davam alguns artigos para confeccionarem lá. E chegavam ao Piódão alguns alimentos da parte de instituições. Lembro-me que havia um óleo de fígado de bacalhau, que eles diziam que fazia muito bem às crianças, e que nós não gostávamos nada daquilo, mas que quase que nos obrigavam a tomar porque era bom para a memória, para isto e para aquilo. E todos os dias tínhamos de tomar uma colherzinha daquilo. É como se fosse um xarope. Havia miúdos que para conseguirem engolir o xarope faziam um sacrifício danado. E, todas as semanas, era escalonado um dos alunos:
- “Olha hoje és tu que trazes um molho de couves para fazer a sopa”.
No outro dia era outro, no outro dia era outro. E as pessoas como tinham muitas hortas, muitas coisas, uns voluntariamente, outros que traziam filhos na escola, conseguiam alguns alimentos para se confeccionar e era lá que nós comíamos a refeição. Pelo menos uma sopa quente, mais qualquer coisa, arranjava-se sempre. De manhã, tomávamos o pequeno-almoço em casa. O que mais se utilizava na altura era broa com queijo ou uma caneca com leite das cabras. À noite, em casa, ao jantar era a mãe que fazia. Mas o almoço, era na escola.