Quando era miúdo, havia algumas brincadeiras, à noite, durante um bocadinho. Os que moravam no cimo da povoação tinham um grupo à volta da capela de São Pedro que fica no meio da povoação para cima. Juntávamos um grupo daqueles que residiam ali. Da família Adrião, da família Fontinha, da família Silva, havia ali algumas famílias com várias crianças cada família, e esse grupinho juntava-se e brincávamos. Aquelas brincadeiras da apanha, um tentava apanhar os outros. Outro era às escondidas, cada um escondia-se numa ruela, outro noutra, e o outro tinha de andar à procura dele e se o descobrisse vinha lá bater num certo sítio específico em que ele perdia. Se o outro viesse e conseguisse contornar, sem dar por ele ia lá aquele sítio bater, ele é que ganhava e o outro é que perdia. Aquelas brincadeiras de miúdos. Jogar ao berlinde, fazia-se umas covinhas no chão e jogávamos com aquilo. Havia aí várias brincadeiras que fazíamos na escola também, nos intervalos, e também à noite e aos domingos quando havia disponibilidade para isso.
Brinquedos tínhamos alguns, quando havia familiares, que estavam em Lisboa, e que vinham de vez em quando à terra e traziam. Mas muitos dos brinquedos, eu lembro-me, eram construídos por mim. Imaginava, ouvia. Às vezes, até via outros feitos em fábricas, já em plástico, e eu copiava aqueles mas feitos em cortiça, em madeira ou em casca do pinheiro, chamam a “corcôdea”. Imaginávamos uma carrinha de caixa aberta com cabine, com a carroçaria, com rodas, com aquelas coisinhas todas e nós fazíamos. E, muitas vezes, esses trabalhos que nós fazíamos utilizávamos também para a escola, em trabalhos manuais. Que era umas das coisas que eu até gostava de fazer, naquele tempo.