O Piódão está a ficar sem população porque os jovens foram saindo. Naquele tempo, eu lembro-me de famílias de um casal com seis, sete, oito filhos. Viviam, ou sobreviviam, porque vivia-se mal. Uma família com o pai a trabalhar na agricultura ou na construção civil ganhava pouco. A mãe a trabalhar no campo e, quando a agricultura falhava, era complicado. Portanto, a desertificação acentuou-se a partir da década de 60 que as pessoas, os casais que tinham filhos com 13, 14, 15 anos, saíam da escola primária, alguns já trabalhavam em Lisboa, principalmente, na indústria hoteleira e uns puxavam os outros. Era uma cadeia. E, normalmente, os patrões lá em Lisboa, as pessoas que tinham este comércio, gostavam muito dos criados ou dos rapazes e das raparigas que vinham daqui das províncias porque, diziam eles, que iam com outro espírito de trabalho. Iam habituadas ao espírito de sacrifício, a trabalhar no duro e quando chegavam lá, era um trabalho mais limpo, não era tão duro e as pessoas adaptavam-se bem. Uns começaram a puxar os outros e tinham perspectiva de futuro. A trabalhar no campo não havia perspectiva nenhuma de futuro porque, mais tarde, alguns que foram trabalhar como empregados hoje em dia são patrões, têm casas comerciais, muitos deles, com várias casas de pastelaria, restaurantes, lá em Lisboa. Há uma grande colónia de pessoas daqui da região a trabalhar em Lisboa que hoje são patrões, têm casas próprias. Os jovens foram-se embora e ficaram os pais a trabalhar. Muitos deles já faleceram, esses velhotes, e os filhos, a maioria deles, estão todos estabelecidos fora daqui, em Lisboa, no Porto, em Coimbra. Foram ficando sempre as pessoas mais idosas que já não tinham perspectiva de melhorar a vida.
Neste momento, a tendência não é assim muito animadora. Embora no Piódão haja, ultimamente, uma certa estabilidade, com a questão do turismo e com a fixação de algumas pessoas mais jovens ou de média idade que foram ficando, nalgum comércio local ou agora na estalagem do Inatel. Isto tem-se conseguido manter aqui há uma dúzia de anos para cá. Mas se não fosse isso tenho a certeza que, neste momento, se calhar nem sequer metade dos existentes já estariam aqui, permanentes. É complicado conseguirmos equilibrar isto. A tendência é sempre baixar e não para aumentar. Embora haja aí umas políticas, ao nível da autarquia, de recuperação de algumas tradições, que podem segurar aí um ou outro jovem que consiga se habituar a trabalhar neste tipo de trabalhos que ligados à caprinicultura e ao campo. Mas não é fácil gerir essas coisas.