Mais tarde, quando tinha 18 anos, um primo meu, que veio ao Piódão de férias, no Verão, conseguiu aliciar-me a ir com ele trabalhar num restaurante que ele tinha em Lisboa. Nessa altura, já sabia valorizar mais as coisas. Aos 17, 18 anos já trabalhava no duro, nas obras a ajudar. Eu via que, realmente, o trabalho lá, comparado com este aqui era muito mais leve, não era tão duro. Então, com 18 anos, fui para lá e aí já foi diferente. Já me consegui adaptar melhor.
Depois comecei a conhecer algumas pessoas, e acabei por lá estar oito anos. Ficava em casa desse meu primo que me levou com ele. Portanto, ele tinha uma habitação, rés-do-chão com uma salinha, três quartos e um anexo. Acertámos um valor mensal e ele tinha-me lá em casa. Comia no restaurante e no dia da folga semanal, que era ao domingo, comia também lá em casa com ele. Também lavava a roupa.
Mais tarde, acabei por ir trabalhar para outro sítio. Então saí da casa dele e fui para uma vizinha ao lado, a quem pagava um “x” por mês do quarto. Trabalhava para outra pessoa, melhorou o ordenado. Como estava solteiro, nessa altura, era fácil arranjar quarto na casa de pessoas idosas. Os filhos até já tinham saído de casa, tinham ali uma casa espaçosa, e facilmente se alugava um quarto a um rapaz que fosse da província, que tivesse ido trabalhar para Lisboa. Primeiro fui ganhar 3 contos e 300 por mês. Entretanto, fui subindo e em 1988, quando regressei, acho que eram 38 ou 42 mil escudos que estava a ganhar. Era considerado quase o ordenado mínimo nacional, naquele tempo. Nessa altura até já considerávamos mais ou menos bom, na indústria hoteleira, porque havia muitos rapazes da minha idade que trabalhavam noutros trabalhos e ganhavam quase o mesmo que eu e ainda tinham de pagar a comida. E eu, como trabalhava na indústria hoteleira, num restaurante, acabava por beneficiar disso porque comia lá, almoço, jantar e pequeno-almoço. Só pagava o quarto e o passe. E ainda conseguia amealhar uns trocos. Nessa altura, ainda houve ali uns tempos que pagava as minhas despesas e ainda retornava para o meu pai, porque ainda tinha aqui irmãos mais novos em casa. Só quando entrei com 21 anos para a tropa, em Lisboa, é que o meu pai disse:
-“Então já não é preciso estares a dar.”
Mas foi até praticamente aos 21 anos que eu andei a entregar-lhe sempre algum que sobrava. Depois de pagas as despesas ainda lhe entregava a ele. Eu vinha ao Piódão, principalmente, no Verão, em Agosto, uma vez ou outra na Páscoa, se havia possibilidade, no fim-de-semana ou no Natal. Raramente, a minha família, os meus pais, iam a Lisboa. Quando acabei a recruta militar, lembro-me que o meu pai foi a Lisboa com o meu avô, que já faleceu. Mas, raramente, lá iam. Portanto, nós é que estávamos lá e é que tínhamos de fazer uma visita aos familiares na aldeia. E podíamos vir, uma vez ou outra naquelas épocas especiais, no Natal e na Páscoa. Mas, normalmente, as férias era sempre no mês de Agosto, que era quando coincidia com as festas anuais.