No Natal, tínhamos a fogueira e a missa do galo, à meia-noite. Era o único dia em que a gente se deitava mais tarde, às duas ou três da manhã. Nem no Ano Novo isso acontecia. O Natal era o dia mais longo para aqueles que podiam andar na rua. Muitas vezes, a minha mãe não me deixava. Tinha que vir cedo para casa logo a seguir à missa, à meia-noite. Acabava à uma hora e eu vinha para casa. Mas uma vez ou outra também fiquei com os outros miúdos ali no adro. Tinham um grande cepo e aquilo ficava ali toda a noite. Alguns ficavam lá até às quatro ou cinco da manhã, até que fossem vencidos pelo sono. Ficávamos ali a olhar para a fogueira, a falar uns com os outros. Aquilo era giro. Só estar ali o cepo, já era bonito.
Nos Reis, eram as festas normais. Um pouco diferente, mas também normal. As Janeiras era mais giro, porque a gente ia pedir umas coisas pelas portas. Davam umas coisinhas melhorzinhas à gente. Algumas pessoas davam, outras não davam. Simplesmente nem sequer abriam a porta. A gente, àquelas que davam, dedicava uma quadrazinha. Uma coisa espontânea. Tinha a ver com o nome da pessoa: “Nós aqui estamos!” - depois dizíamos o nome da pessoa, ou Tio João ou Tia Maria - “veja lá se nos pode dar alguma coisinha”... Tinha a ver com a altura do momento. Aos que não davam, dizia um nome feio. Se eles não nos davam e se a gente sabia que eles estavam lá, aí levavam para assar! Não diria que os chamava egoístas, porque nem sabia o que isso queria dizer. Mas dizia-lhe um nome, se calhar, pior que isso...