A Páscoa era também um dia especial porque era uma grande fartura. Era quando se comia a melhor carne, o melhor cabrito, a melhor cabra. Nós, os miúdos, íamos pedir o folar aos padrinhos. Normalmente, davam-nos amêndoas. Aqueles que tinham, os que não tinham... Os meus padrinhos, por sinal, também não eram assim muito riquitos. Eram fracotes, mas aqueles que tinham padrinhos bons acabavam por distribuir pela gente. O que gostávamos mais era ir pedir o folar e depois estar o dia todo a tocar o sino, a seguir à missa. Todos iam lá tocar. Uns tocavam melhor que outros. Nesse dia, o sino começava a tocar com o início das boas-festas. As boas-festas era ir a casa das pessoas com a Cruz. Primeiro, havia a missa e depois, o padre ia às casas todas. Claro, ele recebia um dinheirito que as pessoas punham lá. Quando não era dinheiro, era uns géneros. Iam sempre, também, alguns ajudantes lá da igreja, que são os mordomos, que recolhiam essas coisas. O padre ficava para ali muito cheio de material.
Era muito giro. O dia de Páscoa era um dos dias bonitos. Principalmente para nós, crianças, era muito divertido. Era mesmo à grande. Rebuçados com fartura, amêndoas. Era um dia em que não havia miséria. Era giríssimo.