Antes, contavam histórias, mas eu nunca liguei muito às lendas. Normalmente tinha a preocupação de procurar ao meu pai ou à minha mãe:
- Mas quem é que diz isso?
E ele:
- “Diziam!”
- Diziam?
Metia-me uma certa confusão, porque eu era mais do tipo de “ver para crer”. Se ainda fosse uma coisa que tivesse algum grau de veracidade... Não ligava mesmo. Nem achava grande piada às lendas dos mouros e das mouras e desencantar o dinheiro... Era uma forma, muitas vezes, de meter medo às crianças. Mas o meu pai, não. O meu pai era uma pessoa de moral rígida e metia medo à bofetada. Não havia hipótese. Fazia o medo à maneira dele. Não estava com essas preocupações. Os outros, mais flexíveis, é que faziam isso.
Mas o meu pai contou-me que viam um grande homem chegar ali a uma “peneda”. Dizia umas rezas, a pedra abria-se e ele entrava com um saco. Quando saía, já levava o saco vazio. As pessoas diziam que ele tinha ido lá despejar dinheiro. No saco levava ouro e ele foi lá pôr as moedas. Uma vez, chegou lá um maluco, que tentou rebentar a pedra com uma barra. Afinal, rebentou a pedra e não estava lá nada!
A minha mãe contava-me - e já contavam a ela também - que uma vez veio aquilo que a gente chama um tornado. Quando é o vento forte. Veio uma força muito grande que até derrubou os pinheiros todos. Nesse dia, estava uma mulherzinha num sítio que se chama as Casas Piódão - um sítio plano quando se vai para a Foz d'Égua - e o vento levou essa mulherzinha, que foi parar do outro lado, a não sei quantos metros. Mas passou por um precipício enorme. É um vale completo! Levou-a pelo ar, ela foi cair do outro lado e não lhe aconteceu nada. Simplesmente só a mudou de sítio. É uma lenda também que já contavam à minha mãe.