A alimentação era muito pobre e nada diversificada. Era só o que a terra dava. Batatas, feijão, feijão, batatas, couves... E sopa todos os dias. Não havia dia nenhum que não se comesse. Sopa ao almoço, sopa ao jantar e muitas vezes era mesmo só a sopa. Era boa e dava para comer muitas vezes, mas era muito forte, porque era de feijão com as couves. Na altura, toda a gente tinha um porco. Matavam o porco e essa carne era guardada no sal, porque não havia frigorífico. Depois, ia-se cortando aos pouquinhos de cada vez. Na sopa, juntava-se um naco de carne, dizíamos nós um bocadito. Aquilo tinha de durar por muito tempo. Um bocadito de carne dava para seis ou sete pessoas. Era praticamente só para dar o gosto, porque também era muito salgado. Muitas vezes, era uma pilha autêntica de sal. Salgadíssimo! Era péssimo... Na altura das festas, comia-se também cabrito. A carne de cabra era só para os dias de festa, porque tinha que ser vendida. O dinheiro que fosse realizado dava para comprar outras coisas que eram também necessárias.
A castanha também entrava na nossa alimentação. Castanhas e o mel eram duas coisas muito boas. Era o sustento da maioria das pessoas durante os meses de grande invernia: Dezembro, Janeiro e Fevereiro eram os meses piores. Agora, como isto está tudo alterado não sei se ainda é assim. Se estiver normal, a castanha acaba por ganhar bolor passado uns dias. Estraga-se. Se for seca, o bicho não entra nela e aguenta. A casca apanhava o fumo da lareira, do fumeiro, ficava seca e aguentava dois ou três meses. Essa castanha, depois, quanto mais não fosse, dava para fazer sopa. Normalmente a sopa caseira é batata, feijão, couves, etc. Se tivesse nabo também punham. Nessa altura, simplesmente, não punham o feijão, porque senão o feijão e a castanha - Jesus! - aquilo explodia mesmo. Só havia a substituição do feijão pela castanha. A sopa ficava um pouquinho mais adocicada, porque a castanha é mais doce que o feijão. Mas a sopa de castanha que eu me recordo mais e de que eu ainda tenho o paladar era feita pela minha avó, a mãe da minha mãe. Nós não tínhamos tantos castanheiros que desse para fazer sopa. E daqueles um ou dois que tínhamos, comíamos as castanhas ainda antes de elas ficarem secas. Já não chegavam a sopa nenhuma. A minha avó já tinha mais castanheiros e guardava durante mais tempo. Quando a mãe não estava, a gente ia para casa das avós. E se em casa comíamos sopa, na casa da avó tínhamos sopa também. Havia sempre e matava-se a fome. Era uma coisa muito forte. Nós comíamos aquilo e ficávamos quase dois dias sem ser necessário comer. Era uma coisa que alimentava. É a recordação que eu tenho da altura.