A farinha era nossa, porque nós cultivávamos o milho. Íamo-lo moer, depois amassávamos. Tínhamos umas gamelas de madeira, onde amassávamos a broa. Tínhamos umas tigelas de tender e depois levávamos para o forno.
O número de pessoas a cozer ao mesmo tempo era conforme a fornada que tinham. Se tivessem umas oito broas, mais ou menos, eram quatro pessoas. Se fosse mais, já tinham que ser só três, porque não cabiam no forno. Para não trocarem as broas, uma pessoa deixava a massa sem nada, lisa, conforme deitada da tigela. Outra fazia um buraco com o dedo. Outra fazia-lhe um belisco, apertava a massa com os dois dedos. Outra fazia dois dedos. Senão eram todas iguais, não sabiam de quem era.
Cozíamos a broa nos fornos. Tínhamos dois aqui no Piódão, só um público. O outro era particular, mas o senhor deixava cozer, se a gente lá fosse pedir. Ia toda a gente lá cozer o pão. Havia aí uma pessoa ou duas que tinham os fornitos dentro de casa, mas muito poucas. Os outros tinham que vir pedir vez. Havia muitas famílias. Naquele tempo, não havia uma casa que não estivesse habitada! Famílias de oito filhos e de mais. A primeira que cozia é que dava as vezes encarreiradas, a seguir a ela. Ela era a primeira, depois era a segunda, a terceira, a quarta... Iam assim. Cozia-se broa mais ou menos para oito, 15 dias. Conforme a quantidade de broa que a gente cozesse na altura.
Um senhor cuidava do forno. Tinha uma pá com um grande pau enfiado no cano. O forno tinha umas prateleirinhas onde a gente punha as gamelas com a massa. A gente tendia, punha-a na pá e ele punha-a no forno. Depois, ele vinha outra vez com a pá e nós voltávamos a lá ir pôr. Até encher o forno. Era muito giro. Muito engraçado, antigamente. Por acaso, ainda tenho saudades desse tempo. Agora está muito melhor, mas ainda tenho saudades.