Andei na escola, mas não havia professores. Vinha um, dois, três meses e ia-se embora. Nós ficávamos na mesma classe, porque não dava para passarmos. Portanto, só fiz a terceira classe, e já com uns 11 anos, mais ou menos. Não era que eu não aprendesse. Não era das melhores, mas, pronto, ainda aprendia. Só que não havia quem ensinasse.
Havia muitos meninos e meninas na escola. Estava sempre cheia. Às vezes, tinham que estar três numa carteira, porque não davam para ser só dois. Geralmente, dois é que pertenciam, mas quando havia alunos a mais, tinham que pôr três. Não combinávamos irmos todos juntos para a escola. Cada um ia quando se despachava. Juntávamo-nos no caminho, mas não era que combinássemos.
A escola era em cima, ao Malhadinho. Agora, ardeu. Lembro-me como era. Onde entrávamos, tinha um grande recinto. Havia a sala de espera, que era onde nós arrumávamos os nossos xailes e a nossa roupinha que levávamos para agasalhar. Pendurávamo-la. Tinha uma porta ao lado, que se entrava para a sala, que era toda cheia de carteiras. Carteiras antigas, não era mesas como se agora usa. Era umas carteirinhas, onde cabiam dois alunos. Ao cimo, tinha a secretária, o quadro e uma chaminé para acenderem a lareira. Acendia-se quando estava frio. Atrás, havia um coberto e três casas de banho. Uma era da professora, outra dos rapazes e outra das raparigas. Tinham lá um depósito, dava-se à bomba e a água saía. Era assim.
Já havia uns cadernitos, mas a gente tinha umas pedras com um caixilhozinho em volta. Escrevíamos mais aí. Quando era provas - dizíamos que eram provas, nesse tempo -, aqueles testes, já nos davam uma folha de 35 linhas.
Uma vez, fiz um teste e levei duas dúzias de reguadas. Na terceira classe, eram cinco problemas. Eu só acertei dois. Os outros três estavam mal. A professora deu-me 12 reguadas numa mão e 12 noutra. Fiquei com as mãos... nem sentia, a arder, a formigar, quando fui para a carteira. Fartei-me de chorar. Essa professora ainda é viva! Os meus filhos ainda foram para a explicação para casa dela, em Corroios, quando eu estava em Lisboa. Era uma professora muito nova. Era alentejana. Casou com um rapaz de cá do Piódão, que andava em Lisboa. Ela casou e foi para lá com ele.
As professoras, nesse tempo, eram um bocado para o mau. Eram más. Tinham uma régua de madeira e batiam! Era tumba, tumba, nas nossas mãos. Puxavam as orelhas, espetavam as unhas nas nossas orelhas. Uma vez, numa irmã minha, até tirou o sangue.