Do queijo, também me lembro, fiz muitas vezes. Quase toda a gente tinha cabras e ovelhas. Dizem que o queijo fica melhor, tendo mistura de leite de cabra e de ovelha. Era passado por um pano branco, limpo, a que chamavam coador, para ficar ali alguma impureza que houvesse, podia ter algum pelo de cabra, por exemplo. Ia para umas panelinhas de barro vidradas, juntava-se um pouco de sal para o queijo ficar mais saboroso. Depois, punha-se-lhe coalho, que era uma erva que nós cultivávamos, parecida com a alcachofra, que dava uma flor roxa.
Essa flor era cortada com uma tesoura, seca à sombra e pisada com um bocadinho de água. Apanhava-se na Primavera e guardava-se para o ano todo. Só mais tarde é que começaram a aparecer aqueles pós (coalho em pó) que se compram nas farmácias.
Depois, punha-se essa panela de barro vidrada próximo da lareira para apanhar um bocadinho de calor, mas não muito. Punha-se uma coisinha na boca da panela e de vez em quando ia-se tirando e vendo se já estava em coalhada para de seguida se fazer o queijo.
Dentro dum prato fundo punha-se o acincho, com as mãos tirava-se a coalhada da panela, metia-se no acincho e ia-se espremendo muito bem para sair todo o líquido. O soro ficava, mas não se usava muito, deitava-se fora ou se havia porcos, dava-se aos porcos. Hoje já se usa para fazer requeijão.
Os queijos punham-se a secar nas queijeiras, que eram de madeira. Iam-se voltando de um lado e de outro com umas pedrinhas de sal. Às vezes, comia-se fresco. Fazia-se de manhã e comia-se à tarde ou ao outro dia.