A casa onde eu nasci era pequenina, não era grande. Agora está grande. Coitadinha, era casa de pobre. Até tinha uns buracos grandes, punham umas coisas para tapar os buracos. Era só um andar e lojas por baixo. A loja era para os animais, que eles não andavam na rua. Tinham uma casinha também. Tinha um quartito para os meus pais dormirem, outro para a gente dormir, uma salinha para a gente comer e a cozinha. Mas tudo pequenino. Assim como a minha, é um poleirito.
Fazia-se uma fogueira grande, arrumava-se tudo para o lado, tudo se aquecia. Lá num certo sítio punham uma pedra das meeiras, fortes, e depois era calçada, e ali era a cozinha, fazia-se uma fogueira grande. O comer fazia-se na cozinha, com as panelas de ferro de três pernas. Ainda hoje tenho pena de uma que se furou, era pequenina, já sabia a medida para fazer o comer.
Eu fome nunca passei. O comer a gente arranjava nas fazendas. As outras coisas era muito pouco. Havia pouco. Depois, mais tarde, já eu tinha os meus filhos, era tudo racionado. Eram uns coisitos de açúcar, às vezes, nem para o café dava. Era com o que a gente temperava o café para os miúdos e alguma coisa que a gente comia assim. Doces não se comiam. Era só o que a gente arranjava do nosso braço. Foi uma tristeza muito grande.
A minha mãe fazia sempre a sopinha. Criávamos um porco e chegámos a ponto de criar dois! O meu pai ia-os buscar pequenininhos e a gente criava-o com abóboras e coisas que a gente tinha na fazenda. Era tudo da fazenda. Mas era carne de trás da orelha.