Fui para a escola com 6 anos, tinha-os feito em Abril e fui em Outubro, ia e vinha com os meus irmãos mais velhos. Estávamos sempre juntos, pois eles eram os responsáveis por mim na escola. Os meus pais incutiam-lhe essa responsabilidade. Depois, como eles estavam em classes mais adiantadas, explicavam-me coisas em que eu tinha dificuldade.
Eu estava na primeira classe, quando dei um jeito ao pé esquerdo e não podia anda, por esse motivo não podia ir à escola, estive de cama com o pé ligado muito tempo. Na escola, aprenderam a tabuada, a minha mãe comprou-me uma tabuada, mas eu rasguei-a toda na cama. Mas aprendi, que ainda hoje a sei.
Os meus irmãos iam-me dizendo o que é que os meus colegas de classe iam aprendendo. Traziam-me sempre uma folhinha no cadernito, deles, e diziam:
- “Olha, hoje aprenderam isto. Os trabalhos de casa são estes.”
Eu fazia e eles levavam para a professora ver.
Lembro-me que quando chovia muito, e, às vezes, estava muito vendaval, a minha mãe ia-nos levar ou buscar. Ou então o meu pai, em dias que estavam muito maus e ele não ia trabalhar.
Quando eu estava na segunda ou terceira classe, a estrada chegou aqui ao Piódão. Antes, vínhamos e íamos para a escola por um caminho, mas quando andavam a fazer a estrada, já não vínhamos pelo caminho, mas sim pela estrada, até onde ela vinha.
Tive sempre a mesma professora. Chamava-se Gorete, casou com um senhor de cá, é um dos sócios da Casa da Padaria.
Ela era muito rígida, quando fazíamos ditados por cada erro, ela dava-nos uma reguada. Pegava-nos na mão e com uma régua de pau batia--nos. Quase nunca apanhei reguadas, porque não dava erros, mas haviam lá colegas que davam tantos erros... Quanto erros dessem, quantas reguadas levavam. Mas eles já estavam tão habituados, que nem lhes doía. Saíam dali com a mão encarnada, mas não lhes doía nada.
Mesmo fora da escola, se a víssemos na rua, não sabíamos onde nos havíamos de meter, mesmo não estando a fazer mal. Era uma boa professora, ensinava muito bem. Eu sempre gostei de tudo o que ela ensinava. Tinha alguma facilidade em perceber logo à primeira, e, às vezes, ensinava os colegas.
Lembro-me de ter colegas que tinham muita dificuldade nas contas. Uma colega tinha mesmo muita dificuldade. Quando a professora passava as contas no quadro, para nós fazermos, ia fazer outras coisas com outra classe. Eu fazia as contas no meu caderno, copiava num papelinho e passava-lho sem que a professora desse conta. Se professora percebe-se que eu estava a passar os resultados à colega, também levava, ou com a régua ou com uma vara comprida. Não nos magoava, era mais para intimidar.
Fiz o sexto ano aqui, era a escolaridade máxima que aqui havia e também a obrigatória, chamava-se o ciclo.
Depois para continuar tínhamos de sair da aldeia e ir para o Concelho. Os meus pais ainda me disseram que se quisesse ir para Arganil me deixavam ir. E os meus irmãos também nenhum se importava que eu fosse estudar para fora:
- “Ah! Pode ir!”
De todos nós, aquela que sempre gostou mais de aprender fui eu, e, os meus pais sempre me incentivaram a estudar, apesar de antigamente, não ser normal os pais incentivarem os estudos.