“Não há ambiente como naquele tempo”

Quando era mais nova ajudava os meus pais no campo, tanto, que eu e os meus irmãos quando vínhamos da escola, íamos sempre ter às terras onde a minha mãe andava. Ela levava-nos o lanchinho e nós íamos lá ter com ela. Que fazíamos nós? Normalmente, era deitar o rebanho (cabras e ovelhas) para pastar. Quando éramos mais crescidinhos, começámos a fazer outras coisas, pois desde pequenos colaboramos, quer nas tarefas do campo, quer nas tarefas de casa.

Nós somos quatro irmãos: dois rapazes e duas raparigas. O ambiente em casa era muito bom, nas famílias actuais penso que se degradou um pouco. Vínhamos do campo ou da escola, chegávamos a casa e todos ajudávamos a fazer o jantar. Naquele tempo, não se usavam muito os fogões como hoje, cozinhava-se nas panelas de ferro à lareira. Então as tarefas eram distribuídas do seguinte modo: uns descascavam batatas, outros preparavam as hortaliças, por exemplo, e havia também aquele a quem cabia tratar do porco que estava aqui perto da aldeia, ou seja, cada um fazia uma tarefa. Depois, conversávamos todos, não havia televisão. As raparigas, às vezes, faziam renda ou malha, jogávamos às cartas uns com os outros.

Lembro-me que nós sempre tivemos azeite, queijo, leite, batatas, legumes e alguns animais, tais como: cabras, ovelhas, coelhos, galinhas e porcos. Havia determinados produtos que vendíamos e também alguns animais – o excesso. Tínhamos uma quinta a 25 minutos daqui, ou seja da aldeia, no Soito Escuro, que era produtiva.

Na nossa quinta do Soito Escuro, o meu pai cortava mato para as cabras e havia um senhor que morava aqui mais para o cimo da aldeia, que deixava que o meu pai fosse primeiro cortar o mato para as cabras e ovelhas e ele ia depois, ficava em baixo no fundo a cortar mato para as cabras dele. O meu pai e a minha mãe viam o mato cortado, mas não sabiam quem era. Mais tarde descobriram que era ele. Eu era pequena, não me lembro assim de muito mais.

Na minha infância havia aqui muitas crianças. Na escola primária, chegávamos a ser três miúdos por carteira, e, cada lugar da freguesia (Chãs-de-Égua, Malhada-Chã, Fórnea e Tojo) tinha a sua escola, aqui era só os do Piódão. Lembro-me de haver 50 e tal alunos na escola divididos pelas quatro classes: primeira, segunda, terceira e quarta. A escola está fechada, inclusive ardeu neste último incêndio há quatro anos (2005), em que apenas não ardeu o povoado, sendo que desde sensivelmente 10 anos para cá que não tem alunos, os poucos alunos que há na freguesia vão para a Ponte das Três Entradas. Na escola brincávamos muito, hoje nem sequer existem crianças para brincar, no Piódão são apenas três e dos outros lugares da freguesia não tenho números exactos, penso que não devem ser mais de seis.

Conhecíamo-nos todos, vínhamos todos do mesmo meio, uns viviam mais abastados, outros menos. Era mesmo assim, era muito bom, muito divertido, fazíamos muito jogos e agora isso não é possível, não há crianças. Jogávamos às escondidas, à bola, à nexe, e outros que já me lembro pouco.