O vestuário do dia-a-dia era o normal da época, as raparigas e as senhoras não usavam calças, usavam saias ou vestidos, se bem que as senhoras não usassem tanto o vestido, era mais saia e blusa ou camisola no Inverno. Lembro-me que a minha mãe vestia-me e à minha irmã com vestidos. Havia uma senhora que morava numa aldeia relativamente perto que era uma excelente costureira, então a minha mãe comprava os tecidos e mandava fazer vestidos por medida para nós. Normalmente ia-se à feira (Vide, Arganil Avô ou Lourosa) e comprava-se o tecido, ou então a costureira também vendia, escolhia-se o tecido e a senhora fazia o vestido, depois fazia a conta ao tecido e ao trabalho.
Por norma ia-se mais à Vide fazer as compras, porque era mais perto (ia-se a pé), fica a 16 quilómetros. Ia-se Arganil quando havia necessidade de tratar algum assunto (Arganil é o Concelho). A Lourosa ou Avô também se ia a pé, Lourosa fica a 30 quilómetros e Avô não sei, no entanto a distância é menor que Lourosa.
Estas senhoras que trabalhavam muito bem de costura (como aqui se dizia) faziam as roupas para toda a família: camisas para os rapazes e homens, vestidos para as raparigas e saias para as senhoras. Para as fazer as calças dos homens haviam uns senhores, que eram os alfaiates, hoje por aqui, não existe ninguém a fazer estas confecções. De resto, eram os sapatitos com as meiitas e um casaquito. Os meus irmãos também não usavam calções, penso que não se usavam naqueles tempos, pelo menos, por aqui. Lembro-me das calcitas e das camisas que eles usavam, que também eram feitas pela costureira (a Felisbela).
Não havia tecidos especiais, normalmente, o tecido de Verão era quase o de Inverno, a diferença entre um e outro era pequena. Por acaso, lembro-me que eu e a minha irmã tínhamos vestidos de um tecido mais fino para Verão, e até de manga curta, e outro mais grosso para os vestidos de Inverno. Mas não havia grande diferença na escolha de tecidos em relação ao Verão e Inverno, principalmente entre as pessoas que viviam com dificuldades. O caso da minha família, não éramos ricos, mas nunca nos faltou nada do essencial, também não tínhamos determinadas coisas que hoje temos, nem sequer havia e levámos muitas vezes um não quando pedíamos coisas aos nossos pais.
Brinquedos, era coisa que não havia, as bonecas eram feitas de trapos. Lembro-me de a minha mãe, que Deus tem, fazer as bonequinhas de trapos. Os moços também não tinham carrinhos, brincavam muito ao pião e com uma fisga a mandar pedrinhas.
No Inverno nevava muito, hoje já não neva tanto, sendo que para além de nevar muito, também ficava muitos dias a derreter. Muitas vezes de manhã, nós acordarmos com tudo branco, para sairmos de casa, o meu falecido pai ia com uma enxada fazer um caminho. Todas as pessoas abriam caminhos na neve para saírem de casa. Normalmente essa tarefa cabia aos homens. Os pais juntavam-se para limpar o caminho para podermos ir à escola. Quando saía-mos da escola vínhamos por ali abaixo a fazer bolas e bonecos de neve, ou seja, brincar com a neve e só depois íamos para casa. Na escola, havia uma lareira que era acesa para nos aquecermos e para a própria escola ficar mais quente.