Tive várias professoras, mas só da última é que me lembro o nome. Era minha prima. Chamava-se Maria Gorete. Na escola, ela era um bocadito má. Tinha de ser, porque éramos 50 e tal alunos. Ela tinha que fazer primeira, segunda, terceira e quarta classe. As outras crianças vinham do Torno e da Foz d'Égua, das casas que estão recuperadas ao pé das represas. Havia muita gente. De Chãs d'Égua, da Malhada Chã, da Fórnea, do Tojo. Vinham para aqui, porque não havia lá professoras. Uma professora para tantos alunos. Há histórias até engraçadas.
Eu era miúdo mas já era mau. Estava muito frio e a gente acendia lá o lume. Os alunos todos iam à lenha. Púnhamo-la lá debaixo do telheiro da escola e acendia-se o lume de manhã até à noite. Ela, uma vez, meteu-me de castigo encostado a uma parede. Já ao tempo que lá estava:
- Ai, não me tiras aqui da parede?
Agarrei nos chinelos, espetei-lhe com eles para dentro do fogão. Teve de ir descalça.