Os tempos com os meus pais e os meus irmãos eram porreiros. Contavam-se histórias à noite, aquelas histórias do arco-da-velha. A gente, às vezes, até tinha medo de sair à rua. Lembro-me de muitas histórias, mas agora não vale a pena estar a contar. Era anedotas.
Às vezes, havia aquelas brincadeiras. A gente, à noite, tínhamos os fumeiros na cozinha e tal, e eu dizia para os meus irmãos:
- Qual está mais tempo com os olhos fechados?
E quando eles fechavam os olhos, com a faca, ia às chouriças. Eram duas ou três que iam para dentro de um saco e saíam porta para fora. Ia para o petisco para o outro dia. Os outros faziam a mesma coisa. Era divertido. Os meus pais nem davam por falta delas, porque não as contavam. Conforme iam cortando, iam deitando para a panela do azeite, ou como é que se chamava isso, porque não havia frigorífico. Eu fazia as patuscadas mais ou menos com os que regulavam com a nossa idade. Não tinha brincadeiras com os meus irmãos, porque não chamava.
No Torno, não era só eu. Havia lá muita gente. Agora, é que morreu tudo. Eu tenho 50 e há mais velhos, mas foram para Lisboa em novos, aí com uns 12, 13 anos.
Aqui, no Piódão, jogávamos ao futebol ao domingo, ao fim da missa. Depois uns foram para um lado e outros foram para outro. Eu também fui.