Fui aqui criado, gosto disto! Para mim a aldeia era mais bonita conforme estava antigamente. Há muita gente que vem aqui à procura de uma rua e já está diferente. No outro dia, uma senhora:
- “Então, onde é que é esta casa aqui?”
- Olhe, quer ver onde é que é?
Eu vim-lhe lá ensinar.
- É aquela ali.
- “Ai, não! Você está-me a enganar.”
- É!
Chegou lá perguntou. E eles disseram:
- “É, sim senhora, é aquela. Já foi deitada abaixo e depois reconstruída.”
Antigamente era mais bonita. A pedra não estava tão bem encamada. Mas se estivesse assim, já tinha caído tudo para o chão. Aqui na aldeia não gostava de ver nada mudado. Gostava era de ver a estrada arranjada até lá abaixo ao Torno. Se tivéssemos uma carreira todos os dias, a gente sempre vinha todos os dias aqui para o Piódão. O Chão Sobral é uma terra que tem muita gente, porque tem lá uma carreira todos os dias. Trabalham em Oliveira do Hospital, tem carreira. Chegam a tempos ao trabalho, dá para tirar a carta de condução ao fim do trabalho... Agora, a rapaziada, tudo tem carta, tudo quase tem carro. Mas a carreira nunca abandonaram. Tem a carreira à noite, às seis horas. Às sete horas estão em casa. Nós aqui no Piódão não temos nada. Veio aqui o médico ontem. Agora só vem daqui a um mês. Nem um enfermeiro, nem uma enfermeira. Andam aí por esse caminhos pedestres, vão para a Foz d'Égua, vão para os Chãs d'Égua, vão para o Torno. Caem ou cai uma criança ou uma coisa qualquer, não há nada. Podia estar uma enfermeira permanente pelo menos nos três meses do Verão. Tem uma empregada na igreja. Pode lá estar. E então não pode estar aqui uma enfermeira? Às vezes caiem aí pessoas, é preciso dar injecções, têm que ir a Côja. Tem que alugar o carro ao Lourenço ou chamar uma ambulância para ir tomar uma injecção. Há aqui uma rapariga que as dá, mas não pode, porque não é enfermeira. É uma responsabilidade muito grande. Antigamente qualquer um dava. O meu pai também as dava e eu também dei muitas na tropa.