Na tropa, tirei a especialidade. Tirei o curso de Operações Especiais em 1978, nos Rangers, em Lamego. Estive lá 18 meses e meio, mas não gostava de andar fardado. Depois, fomos destacados para a Infantaria N.º 6 para o Porto, para uma companhia que lá havia de Operações Especiais. Era na Senhora da Hora. Havia a companhia do Comando, a companhia dos Serviços e outra que era para tirar a carta de condução. Depois, do outro lado, do lado do bar, havia também a de recruta. A outra de cima, era de Operações Especiais. E havia mais. De um lado são quatro, do outro, são três.
Até vou contar uma história, que não havia de contar. Estava um rapaz preso há seis anos para ir responder, por causa de uma G3. Um dia, hesitei a saltar o tanque. Há lá um tanque com a pista de obstáculos. Eu hesitei. Em vez de saltar o tanque, caí para dentro. O outro que vinha atrás, em vez de travar, não travou e foi para trás de mim. Vinha muito colado. Até se me agarrou às costas e cortou uma perna numa garrafa. Eu saltava bem aquilo. Já tinha lá saltado tanta vez, mas aquele dia, hesitei e caí dentro. Aquilo era só óleo, só água, só lixo. O padre - que tem lá uma capela dentro, ao pé das oficinas da alta ou da companhia dos carros - era um major e disse:
- ”Amanhã, quero aquilo despejado.“
E estava lá a G3 que tinha desaparecido há seis anos. Estava boa. Aquilo era só óleo queimado. O rapaz, passado quatro ou cinco dias, foi logo posto em liberdade. Depois, foi lá ao Porto à minha procura. Se não fosse eu o outro saltava. Até convidou a gente. Fomos lá não sei já onde é que foi, a Ermesinde ou que foi, jantar com ele. Há coisas!
Eu só vinha de mês a mês a casa. O dinheiro era pouco. Estava lá sempre no quartel. Ia fazer rondas a Campanhã, a São Bento. Conhecia bem aquilo. Agora é que se lá fosse, era capaz de não conhecer, porque aquilo está tudo mudado. Há 30 anos...