Em 2000, fui para a Suíça, para a capital, Berna. Fui com um cunhado meu, que ainda lá está hoje. Já lá está há 20 e tal anos. Foi logo a seguir ao meu pai falecer. Trabalhava para a Frutic. Tinha um casarão muito grande. Naquilo, cabia lá 1000 e tal pessoas. Eu, por acaso, até estava bem. Estava no terceiro andar. Mas havia alguns que dormiam do chão para baixo a três e quatro pisos. Se a água, de noite, entrava pelas janelas, ficam lá todos afogados.
No tempo da Páscoa, há mais feriados na Suíça. É uma semana quase só de feriados e não se pode trabalhar. A religião deles é diferente da nossa. Pela nossa religião, temos de pagar mais do que o que eles pagam pela deles. Eu não sabia, porque se soubesse, dizia que era da religião deles. E tem que se pagar para a tropa e tudo. Tinha 1000 e tal francos suíços de desconto por mês. Para a Caixa e para a Igreja deles, que também lá havia Igreja nossa. Mas depois, recebi tudo.
Tínhamos cantina. Pagava-se 1,20 francos. Se quisesse comida portuguesa, fazia. A gente juntava-se e fazíamos nós todos. Daqui não se pode levar queijo, nem nada. A única coisa que se pode levar é uma garrafa de vinho do Porto. Nem aguardente. Se eles mandavam abrir o saco na fronteira, fica lá tudo e ainda temos de pagar um “x”. Havia casas que vendiam produtos portugueses, que já tinham gajos contratados nas fronteiras. Passavam tudo e mais alguma coisa. A gente só fazia assim uns piqueniques.
Ao fim de vir de férias a Portugal, fui a uma inspecção médica. Vim cá em Agosto e quando chegámos lá, estava um nevão dos diabos. Não trabalhámos quatro dias. Ao quinto dia, era para ir trabalhar. Recebi uma carta lá na casa da Frutic em Berna. Eu não percebia nada de alemão, quanto mais suíço, que ainda é mais complicado. Fui a um café que era de um português e disse:
- Sabe ler?
- “Sei!”
Sabia ler.
- “Isso é melhor ligares ao teu cunhado. É para ires a Genebra fazer uma inspecção médica.”
- Então, como é que eu agora vou para Genebra? Daqui de Berna para Genebra são 100 e tal quilómetros, sozinho!
- “Ah! Devem ir mais contigo. Não deves ser só tu que vais.”
Tinha o número do contacto do meu cunhado e ligou.
- “O teu cunhado amanhã tem que ir a Genebra, à inspecção médica.”
Diz o meu cunhado:
- “Eu daqui a bocado pego no carro e já vou lá ter com ele.”
Ele não vivia na casa da Frutic, porque se pagava mais. Tinha uma casa dele. Agarrou no carro e foi à casa da Frutic, onde eu estava. Disse:
- “Olha, também vai fulano aqui da casa e fulano e fulana. Estes já cá fizeram dois anos, já foram a várias inspecções. Tens que ir também.”
Ao outro dia de manhã lá me levantei. Vesti outra roupa, tomei banho e fui à inspecção. Só que fiquei mal. Dos outros, houve dois que passaram e três que não passaram. Um deles fui eu. Não me aceitaram, porque tinha problemas no coração. Mas o meu cunhado era cabo na firma - lá, não é encarregado, é cabo - e aguentou-me até ao fim do ano. Andava ao pé dele a trabalhar. Senão, davam-me 15 dias de baixa, ia levantar a minha conta e vinha para Portugal. Aquilo é tudo controlado com a Polícia.
Na Suíça é melhor que em Portugal. Eu punha cá 250 contos todos os meses. Dá 1000 e tal euros. Aqui onde é que se tiram? Não era aqui que me safava. Ainda hei-de ir trabalhar para fora. A esperança ainda não morreu.