O dia da matança, a gente matava o porco. Falava a um homem que vinha matar, depois pagava-se. Não era de graça. Era de troca. Ele ia fazer esse serviço à gente, amanhã ia a gente fazer a ele. Era uma troca que a gente fazia. Isso era assim que a gente vivia. Trabalhávamos hoje para aquela, amanhã trabalhávamos para o outro, conforme o trabalho a gente pagava. Fazia chouriças e a carne era metida numa salmoeira, uma arca, pode-se dizer uma arca. Ali tapadinha, mas bem salgadinha. Pelo meio era uma coisa que se botava por cima das tábuas, era uma estrumada de sal. Depois assentava-se os presuntos e as pás e a outra carne miúda punha-se naqueles buraquinhos bem tapadinho com sal. Depois, mais tarde, começou a estragar-se, não sei o que é que veio, ainda houve um ano que se estragou também a mim. Tive de enterrar aquilo tudo. As chouriças a gente migava aquela carne miudinha e depois era temperada com sal, salsa e pimentão-doce, aquelas que levavam. Aquelas que não levavam, levavam sangue do próprio porco. Eu fazia o enchido que depois se podia comer.