A minha mãe era a Ermelinda de Jesus. Era tecedeira. Era muito boa pessoa. Olhe que não há ninguém que diga mal dela. Não há ninguém. Ela era boa para toda a gente. Os meus irmãos e eu todos sabíamos qualquer coisa de tecer. Até a gente tecíamos. A botar o fio e depois a bater. Mas a gente sabíamos. A minha mãe e o meu pai diziam:
- “É bem saber de tudo”.
Se a minha mãe, por exemplo, adoecesse, que tivesse o trabalho a meio, a gente acabávamos o trabalho. Íamos tecer também, ajudar a botar uns rolos. O meu pai dizia:
- “Aprende-se a saber de tudo. Pode não ser preciso mas se for preciso... ”
Dava-se o caso que a minha mãe morria, isto é um supor, ou estava entrevada que não pudesse, a gente tecia de umas pessoas e de outras, que se tecia para fora, a gente fazíamos aquilo. Era mantas, pano até para calças! Calças daquelas fortes para o Inverno, boas, daqueles panos. Fazia-se o que se podia. Ela tecia mas não vendia. Nesse tempo, toda a gente tinha gado depois trocavam aquela lã por umas maçarocazinhas redondas. Depois vinham umas, vinham trazer uma sacada, trocava a lã, porque nesse tempo era preciso. Havia um fulano, na Benfeita, que negociava nisso. Levavam um saco de lã, pesavam-no e depois traziam aquele saco.
A minha mãe era assim: uns tantos metros, recebia a dinheiro, e outros tantos metros chamavam elas a merendada. Davam umas tantas tigelas de feijão ou umas tantas tigelas de castanha. Nesse tempo, havia muita castanha. A gente queria passar, às vezes, pelas estradas e estava tudo cheio de castanhas por aí fora. A minha mãe aproveitava tudo.