Cozíamos a broa, a gente semeava o milho, cavava a terra, sachava-o, regava-o, apanhava-o, ia moê-lo e cozia-o. No dia de cozer a broa, fazia um bolo de cebola, bem miudinha, com uma postinha de bacalhau desfeita, com um bocadinho de azeite ou nada, era a nossa vida. Ainda hoje sinto saudades. Eu dessas comidas que agora ando a comer, é só porque vou fazer pela minha mão, ainda hoje a faço, a sopinha pela minha mão, faço ao domingo para comer, todos os dias, à noite. Todos os dias como uma tigelinha pequenina de sopa. Faço ao sábado ou ao domingo.
A broa a gente peneirava com uma peneira. Peneirava-a, depois a água era morna. A gente botava-lhe água e com as mãos mexia, mexia, mexia, a massa ficava balofa. Depois a gente tapava-a, chamávamos aquilo uma gamela. Ela depois abria toda, tapava-se com farinha, fazia-se uma cruzinha, e depois ia para o forno, aquecia o forno e quando ia ver a broa já estava a abrir. A cruz era para Nosso Senhor a acrescentar, para nos dar muita. A gente com Deus tudo, sem Deus nada. Deus Nosso Senhor é que nos dá tudo. Eu deitei muita broa e tendi. Punha um pano, no rabo da pá, no pau. Tendia e punha lá para dentro. Quem cá dera um bocadinho dessa broa.