Eu não fui à escola. Nessa altura, a escola esteve três anos embargada, por causa de uma janela. A janela era mais larga ou mais pequena do que estava no projecto. Esteve três anos a escola preparada e sem funcionar. Passou-se muito tempo, e mais dois irmãos chegaram-se a mim. E os meus pais diziam que não podiam andar três na escola e eu que era o mais velhito, que já fazia muito serviço.
Eu gostava de ter ido à escola. O meu pai dizia:
- “Então, a gente não tem para comer. E agora para comprar livros, e comprar isto para três?”
E eu, está claro, como já fazia muito serviço, fiquei. Para eles dois aprenderem, eu fiquei. Nesse tempo, a professora era muito boa senhora. Havia aí raparigas, que também estavam a passar da idade e os pais, ou as mães, foram-lhe falar e, à noite, depois dos trabalhos, iam estar uma hora na casa da professora. Mas eu não fui. As raparigas ainda aprenderam qualquer coisa e eu não aprendi nada. Isto de fazer uns riscos tem sido assim, mas o mais não sei. Posso dizer que aprendi a fazer o meu nome, muitas vezes, a copiar por outra coisa. Havia um rapaz que andava na tropa, nem era aqui de perto, era de longe e dizia-me assim:
- “Ó Tónio, se souberes escrever o teu nome já é bom.”
E posso dizer que ele é que me ensinou a fazer o nome, mas não vale nada porque eu não assino nada. Eu assino mas eu não sei o que é que lá está. Vou assinar e:
- “Ó fulano assina aqui isto.”
A gente assina, por exemplo, sabendo ler vê, mais ou menos, o que está a assinar. Assim não. Eu assino uma coisa que não sei o que está escrito. Se é para mal uma pessoa pode ser prejudicada.