Havia uns dias em que as encontrava e elas faziam por passar ao pé da gente. Às vezes, havia horas a falar com a gente e nós a fazer colheres, eu e mais os meus irmãos. Elas iam pela estrada em que nós estávamos para estarem ali um bocado ao paleio com a gente. Todas gostavam da gente. Mesmo estas de fora. O meu pai andava nas obras, e naquele tempo era tudo em pedra, era acartada em cestas. As mulheres acartavam a pedra e depois diziam algumas raparigas:
- “Ó, tio Zé, você há-de nos dar um filho dos seus.”
- “Ó filhinhas isso é com eles, agarrem-se a eles quando eles cá aparecem, isso é com eles.”
Os meus pais nunca se meteram em nada dos filhos. Diziam eles:
- “Se se dessem bem estava bem, se não se dessem bem, vocês escolheram à vossa vontade.”
Era assim. Nunca disseram nem aquela é boa, nem aquela é má.
Se ela gostava da gente e a gente dela, elas diziam à gente:
- “Tens de falar com o meu pai e com a minha mãe, para eles autorizarem.”
Assim era. Enquanto não se falasse com eles era assim onde a gente a encontrava é que conversávamos. Depois de falar com eles, já íamos a casa, estávamos um bocadinho, às vezes, a passar a mão. Em casa, se passássemos as mãos por cima já ninguém vê. Os pais escondiam-se, os irmãos e as irmãs também desapareciam, deixavam a gente estar sozinhos.