Já trabalhavam, em Lisboa, uns primos meus aqui de Pardieiros e um irmão meu, mais velho. Enquanto andei na tropa, sábados e domingos ficava ao pé deles, eles tinham lá um quarto grande, tinham duas camas, e eu também lá dormia. De madrugada íamos para a praça ajudar, ia aprendendo, comia ao pé deles, e depois davam-me um qualquer tostãozito. E foi assim no começo da vida.
A tropa, para mim, tudo saiu mal. Éramos 20 e tal rapazes, parece que uns 28 homens, que fôramos à inspecção, da freguesia. Éramos todos conhecidos, todos da mesma idade, nos bailes juntávamo-nos uns com os outros. Todos foram para vários quartéis. Eu que nunca tinha pegado numa rédea de um cavalo, que nunca tinha andado em cima de nenhum, fui para a cavalaria. Custou-me a roer aquilo. Então tantos homens e nenhum foi para aquilo, senão eu. Teve que ser e lá fui. No meu pelotão eram 60 homens. Na primeira vez, os cavalos estavam todos perto e a gente formou tudo atrás deles. As cocheiras eram empedradas e nós “trum, trum”, a gente mesmo arrumado a eles, a perder o medo. Depois disseram-me:
- “Pegue lá no seu cavalo, que está atrás de si.”
E saíramos para a rua. E a gente sem nunca ter pegado, foi lixado. Depois, andáramos em corridas e uma vez caí num picadeiro. Andava em volta e passaram 60 cavalos por cima de mim. Era tudo à brutalidade. A gente não sabia. O primeiro cavalo é que pode pisar a gente, os outros já não pisam, saltam. E, além disso, foi uma arma de muito trabalho. Aquilo dos cavalos, havia dias que vinham ali duas a três camionetas grandes de milho, duas ou três camionetas da favas, fardos de palha, para as camas e para eles comerem. Muitas vezes, apetecia-nos descansar, que tínhamos vindo de qualquer lado de andar nas corridas mas ainda tínhamos de descarregar as camionetas. Apanhávamos lá cada suadela. Passáramos muito trabalho naquelas coisas, não tínhamos descanso nenhum.