Em Janeiro, cantávamos as Janeiras. Cá cantavam. Iam dois ou três homens adultos tirar pelas ruas. A gente dizia que iam dando a volta por aí. E iam cantando as Janeiras, lá como sabiam. Cantavam à porta para a gente vir dar a chouriça. Arranjava-se um pau com muito galho onde se penduravam as chouriças. Um dava uma, iam a outra porta, davam outra, outro dava outra. E apontava-se o nome de quem dava:
- “Fulano de tal deu uma chouriça!”
- “Sicrano de tal deu outra chouriça!”
E aquelas chouriças, no dia seguinte, serviam para uma noutada da caldeirada com as batatas. Guardavam-se para aquele dia. Juntavam-se aquelas chouriças, migava-se tudo migadinho, zás, para dentro de uma caldeira a ferver. Ficava gorda aquela calda. Depois, punha-se dentro uma mão cheia de batatas. Era uma ceia para todos. Mas só para quem tinha dado. Quem não tinha dado nada, não tinha nada que ir lá comer.