Tive dois filhos. Vi-os fazer o exame da escola como devia ser. A escola era aqui em Pardieiros. Eles aprenderam bem. Depois, ensinei-os a fazer colheres de pau. Também aprendiam bem. Não eram rudes. Há muitos que são rudes. Tanto faz estarem a ver como não. Não reparam no que estão a fazer as outras pessoas. Porque a gente, para aprender a fazer uma coisa, tem que ver como as outras pessoas estão a fazer. Não estando a ver, não vale a pena lá estar. Não adianta estar lá! Não vêem! São uns fracos. Os meus filhos, não. Ambos aprenderam bem a fazer colheres. Um deles, o António, o que está aqui na aldeia, ainda as faz. Botei-os ao pé de mim, um de um lado, outro do outro, e perdi muito tempo e muito dinheirinho por causa deles. Estiveram até à idade de 18 anos a trabalhar ao pé de mim. Depois, casaram-se e foram para a vida deles. O mais velho, o António, anda na Junta da Benfeita. Comprou cá uma casita e cá está a viver. O outro é o Acácio. Está casado na terra onde eu nasci: Alvôco das Várzeas. Comprou lá uma casita e lá está a viver. Já tem uma filha. A minha neta tem agora 14 anos. Às vezes, vem cá, mas a claque dela é “pia baixo” no povo. A mocidade quer-se uma com a outra. E, pronto, lá estão os dois a tratar, também, da vidita deles. Agora têm de governar a vida deles.