A Comissão começou para arranjarem fundos para fazer a festa. Quando era o princípio, iam tirar dinheiro pelas portas. Um não dava, outro não dava, outro também não dava, aquele não dava. Depois, queriam mandar vir a música para fazer a procissão - um conjunto ou dois para dançarem na véspera da festa e ao outro dia - e o dinheiro não chegava. Então, a gente começara a apanhar sócios. Todos éramos sócios e pagávamos aquela quota todos os anos. Com aquele dinheiro já pagavam à música, já pagavam os enfeites para as ruas, já arranjavam dinheiro para a festa.
Em primeiro, os conjuntos ficavam cá. Dormiam nos palheiros. Botavam uma faixa de palha, de centeio, no sobrado, umas mantas por cima e uns lençóis. Dormia ali tudo de restolhada. Vinham de vésperas da festa, à noute. Ao outro dia, tocavam aí pelas ruas. Chegando a hora de irem para a cama, lá iam eles todos. Chamava-se até a “cama dos músicos”. Havia músicas que tinham aos 30 e aos 40 homens. Eram umas músicas muito grandes. Agora esses conjuntos, essas tunas, já são menos gente. Mas naquele tempo era assim. Tudo queria vir para a festa:
- “Ai! Eu vou à festa para os Pardieiros.”
Também lhes dávamos de comer e eles sabiam que cá comiam bem. Agora, a coisa começou a virar para trás. A música vem cá, faz a procissão e ao meio-dia, uma hora, vai-se embora para a terra dela. Não param cá.
Também se houvesse um cano roto aí na rua, a Comissão é que arranjava. Se pagávamos as quotas, não tínhamos nada que compor o cano. E também se fosse preciso fazer aí uma parede, limpar uma rua, a Comissão é que ia fazer esse trabalho. Fizeram a estrada, mas aí a Comissão não pagou tudo. O Estado deu também muito dinheiro. Onde é que a Comissão tinha o dinheiro? Algum dia? Não tinha dinheiro. Com uma ajuda daqui, dali, daqui, dali, lá fizeram a estradita. Não ficou boa, porque naquele tempo os donos das propriedades pensavam que nunca morriam. Se eles a tivessem deixado alargar como deviam, ficava aqui uma estrada de luxo. Para a Fraga da Pena, passam aqui milhares de carros. Pelo menos em três meses do ano. Lá também é bonito! Aquela estrada vinha ali para a Fraga da Pena e seguia para a Mata da Margaraça. A Mata da Margaraça estava toda em terreiro. Era uma borralheira. Passavam ali os turistas...
Já sou sócio da Comissão desde a idade de 6 anos. Os contos de réis que já para ali engordei. É verdade. Tenho lá já um dinheirão. E na Irmandade, também. Quando eu morrer, se me levarem ali em cima, não me fazem favor nenhum. Eles já estão bem pagos! Actualmente, mesmo na Irmandade, temos uns cinco homens. Incorporam para levar ali adiante uma pessoa ao cemitério. E já é tudo as funerárias. As funerárias é que vêm fazer tudo. Já não há ninguém. Já nem levam velas, nem levam a lanterna, nem levam nada. Não há quem. Acabou tudo.