Para brincar, juntávamos cinco e seis rapazes ou sete e oito e jogávamos o pião. Com uma baraça, zumba, botávamos o pião. Até íamos às caças dos piões uns dos outros. Às vezes, rachávamo-los ao meio. Depois, jogávamos à porrada uns com os outros porque rachávamos o pião! Era uma coisa assim. E eram uns jogos quaisquer, que a gente também jogava. Já nem me lembro. Escondíamo-nos uns dos outros e depois andávamos à pergunta deles aqui pelos campos, por um lado e por outro. Quando aparecia, essa pessoa vinha a correr e se chegava diante da gente ganhava e a gente perdia. Jogávamos a malha, também. Com aquelas patacas, pumba, andávamos a jogar. Nessa altura havia muitos rapazes e muitas raparigas. Não é como agora. Agora é outra vida. Isto mudou tudo. As nossas brincadeiras era brincar a uma coisa e a outra. A nossa infância foi assim.
Quando eu era criança, não podia trabalhar. Os meus pais, coitaditos, é que tinham de ganhar o guito, o pão, para me dar. Com 6 anos, às vezes, vinha para a Mata atrás de um rebanho de gado. Andei sempre a guardar um rebanho enquanto estive lá. Fazia assim: levava o gado lá para o meio e dava a volta a ver se tinham roubado um molho de lenha ou se tinham tirado um pau de castanho. A gente sabia como deixava as coisas e eu ia dar a volta à Mata toda com o gado. Quando chegava cá abaixo às fazendas, já tinha virado a Mata toda e, à tarde, tinha que tornar a ir outra vez para lá. A nossa infância era assim. A minha foi e a de muitos foi igual à minha. Não fui só eu.