Antes, a aldeia não se chamava Pardieiros. Agora é que é, mas já foi Valverde. Depois passaram para Pardieiros. Mas eles não gostavam do nome e andaram para pôr outra vez Valverde. Já não conseguiram. Como esteve muitos anos com o mesmo nome, lá em baixo não autorizaram. Já não conseguiram mudar. Ficou Pardieiros na mesma. Mas, antigamente, quando isto não era nem metade do que é hoje, chamava-se Valverde. Também já foi Aldeia de São Nicolau. Antigamente, havia uma senhora que tinha metade dos Pardieiros. Chamava-se Nazaré. Nessa altura era Valverde. Ela vivia na Rua de São Nicolau. Agora é uma estrada, mas nesse tempo, era uma rua de carros de bois. Uma cabreira. Não era uma estrada como agora. E ela, então, pôs o nome Aldeia de São Nicolau. Por isso a nossa Irmandade é de São Nicolau. Para mim tanto faz ser Pardieiros como Aldeia de São Nicolau ou Valverde. Para mim é a mesma coisa, é igual.
Eu gostei sempre de aqui viver. Não é nenhum luxo, mas ainda tem umas ruazinhas escapatórias. Ainda vamos até aqui, até ali. Aqui, só custa é passar as noutes de Inverno. Se houvesse um distraimentozinho à noute - um filme, uma cassete bonita ou uma coisa qualquer - a gente sempre podia ver um bocadito. Estava lá uma hora ou duas e depois vinha dormir melhor para a cama. Assim, a gente deita-se logo. Há muitas terras que têm estes divertimentos e as pessoas vão ver. Estão ali entretidos. Aqui não há nada disso. Nem nunca cá houve ninguém que dissesse assim:
- “Põe aqui isto ou põe aquilo para o povo ir ver, para se entreter.”
Mas gosto de aqui viver. Estou bem. Ninguém me trata mal, estou na minha casinha. Comprei-a, construía-a, arranjei-a. Cá estou e aqui hei-de morrer, se calhar. É o mais certo. Só se for a algum hospital “pia baixo”. Senão, aqui acabo também por morrer.