As pessoas dos Pardieiros são os “Ralhadores”. Os “Ralhadores” dos Pardieiros! Toda a vida foi. Discutem muito uns com os outros. Têm muito génio. Amanham cada pé-de-vento! Não sei de onde vem isto. Mas para discutirem uns com os outros “não há pai”! Uma porque “roubaste um molho de mato”, um outro “foste-me botar a água, a água era minha e tu foste-la botar”, outro porque “tinha lá umas couves e apareceram esmocadas, se calhar foste tu que mas roubaste”... Armam logo um pé-de-vento! Para ralhar, “não há pai”.
Todas as pessoas de Pardieiros têm nome. Mas há pessoas que botam alcunha. Fulano é esta, fulano é aquela, sicrano é aquela. Eu também tenho alcunha. Sou Zé Garcia, mas todos me chamam “Zé Paródias”. Numa ocasião, quando era pelas Janeiras, havia aqui duas tabernas. E todos os anos a gente matava o porquito e migava chouriças para uma caldeira. Depois punha batata e fazia aquela caldeirada de chouriça e batata. Eu estava na taberna de cima e diz-me o tal homem que juntava as colheres, o Aristides:
- “Ó Zé, vai ali em baixo e diz ao pessoal que está na taberna para vir para cima.”
Eu fui bem mandado e fui lá:
- Ó pessoal, venham para cima, que a paródia está feita!
Diz um que lá estava:
- “Ficas a ser o “Zé Paródias”!”
Até hoje. E eu nada me ralo com isso. Quando me encontram, dizem:
- “Olha, ali vai o “Zé Paródias”!”
E eu:
- Vou, sim senhor!
Vou para a Benfeita, vou para Arganil:
- “Ó “Zé Paródias”! Ei! Então? Que tal? Que andas a fazer?”
- Nada!
- “Olha, eu também não!”
Pronto, não me importa. Mas muitos aí chamam-nos por alcunha e zangam-se. Ofendem-se. Até oferecem porrada! Mas é algum mal? É algum mal chamar a gente pela alcunha? Não chamam a gente ladrão, nem que faz más acções. Por isso, não há mal nenhum em ter um nome! Que mal é? Em vez de um, são dois!