Eu fui cavar terra a 15 escudos por dia. De sol a sol! Enquanto dava sol lá em cima nos oiteiros. Eu dizia, às vezes:
- Ah! Eu ando farto de trabalhar, vamos embora!
- “Ainda se vê o sol. E enquanto der o sol, trabalha-se.”
Enquanto dava sol, trabalhava-se. Eu passei uma vida do caneco. Uma vida muito má. Ainda atingi o tempo das cadernetas para comprar o açúcar. A gente levava uma caderneta a um comércio qualquer e davam-nos 250 gramas de açúcar. Mais nada! Não davam mais nada. Acabava-se aquilo, íamos buscar outra caderneta, outros 250 de açúcar, meio quilito de arroz, meio quilito de massa, meio litrito de petróleo... Era o que davam à gente. Eram umas senhas! Não havia possibilidade para mais. O povo era muito, queriam comer e não chegava. A mercearia era pouca. Não sei como aquilo era.