Enquanto namorámos, nem à aldeia vim. Isto foi em 1957, em Fevereiro, Março. Em Setembro, casámos. No dia 16 de Setembro. O meu casamento foi na terra. Foi na Senhora da Saúde, na capelinha. Eu levava um fato preto. Agora, roupa preta já se não usa, mas era o que se vestia naquele tempo. Uma roupa preta e pronto! Ia encantado da vida. A minha mulher ia mais ou menos com o que se utiliza agora. Nisso, não havia grande diferença, não difere muito do antigo. Um vestido e o véu. É umas das coisas em que não vejo grande diferença: como as noivas hoje vão vestidas em relação àquele tempo. Depois, à noite, tinham outro fato para vestir. Tiravam aquele e vestiam outro que era para virem jantar. Comemos aqui. Almoçámos e jantámos. Ao outro dia tornámos ainda a comer todo o dia. Era casamento à rico! Nessa altura, era tudo feito aqui por nós. Matavam umas ovelhas, uns animais, e havia carne. O forte era a carne. Era assim que se fazia naquele tempo. Tinha uma cozinheira própria, que percebia daquilo dos comeres. As pessoas de família ajudavam. As mães, os pais, tudo ajudava a fazer o comer. Eu, por exemplo, levei aí umas 60 pessoas. Mas já tem havido aí casamentos de cento e tais. O meu levava umas 60, 60 e tal. Já não me lembro bem ao certo.
Daí a quatro ou cinco dias, fui para Lisboa com ela. Casei-me a uma segunda-feira e no sábado fui para Lisboa. Lá fomos viver para um quarto. Em princípio, foi um quarto só. Um quarto com serventia de cozinha, chamava-se nesse tempo. Depois do quarto, arranjei uma parte de casa, que já são duas assoalhadas e já dava para ter uma sala. Sala de jantar, quarto e serventia de cozinha. Mais tarde, quando já tinha possibilidades, arranjei uma casa minha mesmo. Minha, não, que era do senhorio. Pagava renda, mas era uma casa já nossa. Foi assim a minha vida.