Pardieiros é uma coisa velha! Isto chamava-se Vila Flor. Depois, não sei por que razão, acharam que isto era muito velho. Havia aí uns casarios a cair e por isso começaram a chamar Pardieiros. E daí ficou. Houve alguém que já quis mudar para Aldeia de São Nicolau mas, por qualquer circunstância, ainda não se conseguiu mudar e continua a ser Pardieiros. De maneira que não há nada a fazer. Enquanto eles não mudarem o nome, cá estamos em Pardieiros. Os habitantes são os Pardieirenses
Hoje, há muita diferença entre Pardieiros de agora e Pardieiros de antigamente! É como da noite para o dia! Pardieiros era uma terrinha pacata. Tudo vivia do trabalho. Lá para cima era tudo eiras de secar milho. Vivia tudo à base da cultura, dos renovos, dessas coisas todas. Não tínhamos água canalizada, não tínhamos casas de banho. A primeira coisa que veio para cá foi o telefone, que não tínhamos telefone.
Ainda foi tudo antes do 25 de Abril. Não foi uma regalia do 25 de Abril. Nós já tínhamos alguém da terra que se interessava por isso. O Alfredo Francisco Gomes, em conjunto com o doutor Fausto Dias, é que puxou para a aldeia isso tudo e deu cá muitas voltas. Pôs os fontanários. Quando para cá veio a água, nem era para ir para casa. Era para os fontanários. Tínhamos aí uns cinco ou seis onde as pessoas iam apanhar água em vez de irem à fonte. Antes, tínhamos ali um chafariz já muito antigo. Está lá escrito “1923”, mas eu penso que aquilo é anterior a 1923. Era ali que íamos buscar a água. Depois pôs-se os fontanários e pôs-se a água em casa. Agora, tudo tem água em casa. Mais tarde, veio a luz, calcetaram-se as ruas. Foi tudo calcetado, que estavam aí umas ruas não se comparavam nada com agora.
Não tínhamos cemitério! Tínhamos de ir com os mortos, coitados, daqui para a Benfeita a pé com umas cordas debaixo do caixão. Agora não, temos aqui um cemitério ao pé de casa. Fez-se o cemitério e a capela. A outra já estava muito velha. Fizemos o largo à Senhora da Saúde. Temos um campo de futebol. Já fizeram um campo de futebol. Fizeram aqui um parque para as crianças.
Eram estes os problemas dos tempos antigos. Mas eram bons tempos! Gente sã! Hoje as pessoas não são tão sãs como eram naquele tempo. As pessoas não tinham e isso obrigava-as a ser mais humildes. Agora não. Tudo vive mais razoável. Podem não viver bem, mas fingem que estão a viver bem e depois uns não querem ficar abaixo dos outros. Dantes não. Havíamos nós de ter saúde - e já não digo a sorte grande, que essa, também, não interessa a ninguém. Interessa é vivermos.
Pardieiros para mim significa muito. É a minha terra. A gente vai para qualquer lado e quando falam na terra está sempre cá. É uma coisa que não esquece. De modo que sempre que podia, eu vinha à terra. Normalmente, uma vez por ano. Mais tarde, até vinha mais. Vinha aqui estar o tempo que tivesse de férias. Se tivesse 15 dias, era 15 dias, se tivesse um mês, era um mês. Vínhamos para aqui sempre. Eu gostei sempre daqui. Tanto, que até vim para cá viver! Mandei fazer cá uma casa, para quando regressasse. E agora, não faço mais nada! Como, bebo e durmo. Vou até à Casa dar um bocado de música, conversar. É o que faço agora. Não dá para fazer nada aqui. Que é que se pode fazer? O único problema é que aqui o Inverno é um bocado duro. O Verão é bom. Não há melhor! De Verão, isto é uma maravilha! Temos aí uma paisagem que é adorável. No Inverno, o frio é um bocado duro e estarmos cá isolados na serra é um bocado áspero. O defeito disto aqui é o Inverno. Porque de Verão, cá para mim, é uma maravilha.