Depois veio a luz. Não tínhamos luz. Governávamo-nos com candeeiros a petróleo. Algumas velhotas, coitadas, usavam azeite. Como tinham muito azeite nesse tempo - aqui há muita oliveira - usavam aquelas candeias a azeite. Punham azeite numa cavidade e depois acendiam a torcida - chamavam elas uma torcida. E estava para ali a arder. Mas aquilo não dava nada. Era só para não estar sem luz nenhuma. Com o petróleo, está bem! Depois apareceram uns candeeiros que já davam uma luz jeitosa.
Para nos aquecermos, púnhamos lenha na lareira. Não havia gás, não havia nada. Era com lenha! Trazíamos lenha dos pinhais, que aqui há muita lenha. Há para aí lenha! Não a vão é apanhar... Todas as casas tinham uma lareira. Só que aquilo enferrujava a cozinha toda. Era uma carrada de ferrugem para ali!
Para aquecer a comida tínhamos umas panelas de ferro. Não eram panelas das outras, senão ficavam todas pretas. Se lá pusesse as panelas de esmalte - ainda não havia alumínio nesse tempo - ficavam pretas! Eram panelas de ferro. Punham-nas ao lume e elas ali estavam a ferver. Quando era para cozer feijão, era um problema, porque o feijão tinha de estar quase o dia todo a cozer. Lembro-me de a minha mãe pôr o feijão a cozer logo que amanhecia, quando a gente se levantava, e ao meio-dia ainda estava “grolo”, como chamavam. Ainda não se podia comer. Dizia ela:
- “Agora é que está um trabalho, que o feijão ainda está duro!”
Aquilo demorava um bocado a ferver. O ferro demora muito a desenvolver, a aquecer. Era preciso pôr muita lenha encostada às panelas para elas conseguirem ferver.
Eu lembro-me de duas vizinhas, que eram viúvas, que iam à minha mãe com uma pinha buscar lume para acenderem as fogueiras delas. Só para não gastarem um fósforo! A minha mãe acendia o lume mais cedo para fazer o comer para os animais e elas, como sabiam disso, vinham com uma pinha na mão. Acendiam-na só na ponta e vinham com ela pelo ar para ela não incendiar mais, senão quanto mais a virassem mais ela incendiava. Mas não foi só uma vez. Foram centos delas. Não viviam muito longe, mas ainda era um bocadinho. Da minha casa para uma delas era só atravessar a rua para o outro lado, mas para a outra ainda era um bocado.
Isto sem luz, não era nada. Não havia rádio - só a pilhas -, não havia televisões, não havia nada. A luz veio beneficiar em muito a povoação. Com a luz, já o caso era diferente.