O casamento foi somenos. Casei-me na Benfeita e com um padre já antigo que, na altura, estava na Dreia. Foi um alfaiate de lá que me fez o fato: saia e casaco. Era um fato assim amarelado. O meu marido levou uma roupa escura, aos quadradinhos ou às riscas. Era uma roupa qualquer. Não era luxo como agora e nós também não podíamos. Ele era pobre e eu também... Quem me ajudou com os preparativos foi uma cunhada minha, que estava cá, e o casamento foi aqui em casa. Foram umas quatro, cinco pessoas e o meu irmão nem cá veio. Eram só os meus cunhados, era ali o “Zé Paródias” e a irmã e pouco mais. Como estava frio nesse dia, fomos ali para uma fogueira de uma vizinha. Fizemos arroz-doce, carne fresca e tudo um pouco. Passámos lá a tarde e, pronto, acabou-se.
O meu marido trabalhou sempre cá. Não sabia escrever, mas até aprendia. Se começasse a fazer, até aprendia, que ele conhecia as letras, mas os pais também nunca o puxaram... Cavava terra, rachava lenha, serrava, fazia todos os trabalhos. Andáramos muito tempo ali com o senhor doutor Fausto Dias. O meu marido tomava conta do serviço dele, das adegas, do vinho e ainda curávamos as videiras. Fazíamos o serviço e ele ganhava dinheiro.
Depois, ainda fazia os cestos e cestas até às asinhas. Devia ter aprendido com o pai lá na terra dele, porque eles eram uns 12 irmãos, e também eram todos canastreiros. Fazia-os com madeira de castanho. Tinha uma máquina, chamavam àquilo um banco, onde ele botava a madeira. Depois, com o podão, arranjava. Fazia os quadrados do cesto e ia botando correia “pia cima” e fazia os cestos. Fazia as obras à noute. Depois, ia vendê-los a Côja e a Arganil, às feiras, quando não tinha que fazer. Às vezes, eu ia com ele. Perguntava-lhes se queriam um cesto ou qualquer coisa. E depois, é claro, vendia-se. Até se usava mais que agora, porque era com as cestas que a gente acartava estrume, batatas e tudo... Naquele tempo, era tudo barato. Hoje rendem mais, mas já não há quem faça nada também. Cá, por acaso, não havia nenhum canastreiro. Ainda disse para o meu neto mais novo:
- Aprende com o avô!
Um dia, ele foi ali estar a mexer numas correias, cortou-se, já não quis mais! Nenhum quis aprender, nem a arte do pai - a de colhereiro -, nem nada.