As festas antigamente não se comparam com agora. Eram muito mais bonitas. A festa era da Nossa Senhora da Saúde e dos santinhos todos que estão na capela. Está o São Nicolau, a Nossa Senhora de Fátima, a Rainha Santa Isabel, a Santa Teresinha, o Santo António, a Nossa Senhora da Boa Viagem, o Santo Benedito e o São Bartolomeu. Enfeitavam-nos todos quando era por a festa. Até lá estão as florzinhas todas. Este ano ouvi dizer que mandaram vir cá uma florista e botaram flores artificiais, mas antigamente eram as mordomas que tratavam disso. Juntavam-se duas raparigas. Umas flores eram arranjadas, outras eram de cá dos jardins. Todas as mulheres ajudavam.
De manhã, era alvorada de foguetes. Muitos! Em primeiro, a gente saía, ouvia os foguetes e dizia:
- Olha, é festa em tal banda!
Depois, vinha a música. Agora não se ouve nada, não se sabe quando é festa.
A seguir, era procissão, que corre o povo todo em roda. Vai à Senhora da Saúde e depois volta para cá. A procissão até é grande e bonita! Agora já metem mulheres na procissão. Antigamente era mais somenos, era só os homens. Depois, começou a afracar, a haver menos homens, e elas começaram a meter os cabeções e vão também. Têm uma opa branca, metem o cabeção por cima e vão numa irmandade. É a farda da Irmandade. Havia aí uma mulher, que já morreu também, que fazia aquelas opas e os cabeções.
Eu nunca quis cabeção nem nada. E era muito raro ir às festas. Ia ver ali a procissão quando vinha para cima e depois vinha para casa, porque havia sempre pessoal para comer. Fazia cá a minha vida. Sempre fiz muito comer e gosto de fazer comer mas, quando era pelas festas, fazia sempre qualquer coisa diferenciado. Só à noute é que saía, quando era dos arraiais.
Chegavam aqui a fazer muitos bailes! Em primeiro, era no Largo da Senhora da Saúde. Aquele largo grande chegava a ser atacadinho de gente. Ainda me lembro que até lá andava uma mulher do Monte Frio, que já morreu também. Tinha um totó no cabelo, uma coisa enorme, e cantava tão bem! Eram muitos cantos de fados e tudo. Naquele tempo havia aqui boas festas, até aqui à minha porta. Era muito divertido.
Para a mocidade nova, para os mais novitos, nas vésperas da festa ou ao outro dia da festa, havia o jogo do chinquilho e da malha. Às vezes, também chegavam a meter sacos nos pés. Enfiavam os sacos até à cinta e depois andavam a sapejar, a sapejar para ganharem medalhas.
Este ano ainda fizeram aí uma “festelha”, mas não fui lá ver. Não saí daqui de minha casa. Está tudo a afracar... Os novos não querem entrar, os velhos acabam... Isto chega a pontos que acaba tudo.