A minha mãe chamava-se Maria Guilhermina. O meu pai era José Augusto Martins. Eram daqui.
O meu pai foi barbeiro muitos anos. Quando foi para a Grande Guerra de 1914/18, foi para a companhia de saúde, em Coimbra, depois foi para a França. E então lá esteve e dedicou-se muito à enfermagem. O meu pai, segundo ele dizia, era ajudante de enfermeiro. Ia à cama do doente e o médico deixava um diagnóstico pendurado na cabeceira da cama e o meu pai toca de escrever. O doente melhorava e o meu pai tomava nota daquele medicamento. Então o meu pai quando veio da França dedicou-se a dar injecções, foi-se dedicando, foi estudando, estudando, isto é, vendo coisas que tinha nos livros e então aprendeu. Dedicou-se à enfermagem de tal ponto que os próprios médicos iam visitar um doente, chamavam-no para ele os auxiliar. O meu pai chegou ao ponto de auxiliar os médicos até em partos. E não só. Houve aqui uma epidemia muito grande aqui numa povoação em cima. Morreram muitas pessoas. E o meu pai ficou autorizado pelos médicos para lhe dar assistência, para lhe dar os medicamentos, para dar injecções, isso tudo. Porque havia uns médicos em Côja, e o meu pai dava-se muito bem com esses médicos e eles também precisavam dele e então autorizavam-no.
O meu pai chegou a correr essa serra toda, não só na freguesia da Benfeita como na freguesia da Moura e até na freguesia da Teixeira o chamavam para ir visitar os doentes.
O meu pai dedicou-se de tal forma àquilo, chegava lá, via o doente.
- “Tem isto, tem aquilo.”
Auscultava. E receitava medicamentos. Era um homem com uma certa calma, e era querido aqui nesta redondeza toda. Era querido como um médico.
A minha mãe trabalhava na agricultura. Nos terrenos que tínhamos na barroca. E lá os temos. Uns estão de relva. A minha mãe dedicava-se de tal forma que os próprios vizinhos adoravam. A minha mãe era muito estimada. Depois tinha na povoação de Monte Frio, tinha lá família. Porque os meus avós, o pai do meu pai e o pai da minha mãe, eram de lá, de Monte Frio.
Eu cheguei a pontos de não saber quem eram meus parentes. Era do fundo da povoação até ao cimo, toda a gente:
- “Primo isto, primo aquilo.”
Eu ia lá de pequenito com 6-7 anos. Íamos lá às festas, porque o meu pai era muito estimado, não só por pessoas de família, como por toda a gente.
O meu pai tinha aquele dom, chegou a ter uma espécie de um consultório onde tinha algodão, álcool, xaropes, essas coisitas assim. E agora até é a minha nora a tomar conta disso. A farmácia fornece-lhe e ela vende aqui às pessoas que ela entende que precisam deles.