Eu andava sempre na fazenda atrás do meu pai. Ajudava a tudo o que podia. Comecei de pequenina a trabalhar e a fazer o comerzito. Às 11 e meia, meio-dia tinha que vir fazer o almoço. Depois, comecei a levar as refeições para o meu pai. Aprendi com ele alguma coisa. Ele cozia o pão, fazia o queijo, fazia tudo como uma mulher. E eu aprendia com ele.
Tínhamos porcos, ovelhas, cabras e eu, que remédio, andava com elas. Aos 9 anos já andava lá naquilo! Às vezes, no Inverno, a gente andava descalça em cima da geada e tudo! Mas não era difícil. O meu rebanho não era muito grande. Andavam habituadas com a gente.
Algumas vezes, ia sozinha, outras vezes, íamos com companhia, porque havia lá muita gente. Naquela altura, havia muita gente na Mata da Margaraça e ainda se lá criaram alguns depois que eu me casei. Também lá viviam o “Zé Paródias”, a irmã, as primas... Logo de manhã cedo, deitávamos os animais para a Mata e íamos para os lameiros. Havia lá bons lameiros. À tarde, tornava a ir para os animais e para a fazenda e vinha embora de noute. Sempre gostei de vir de dia para casa mas, às vezes, vinha sozinha.
Não tinha tempo para brincar. Então, eu é que andava “pia baixo” a passear com os outros? Sabe Deus como eu passei a mocidade! Não tinha tempo para isso. Só nos animais, quando andávamos a guardar o gado, é que fazíamos brincadeiras. Botávamos a coser, a fazer que estávamos a fazer blusas; andávamos em cima dos cachapeiros; e fazíamos poças, pocitas onde a água andava a correr. Quando andávamos de companhia, começávamos a botar água e a ralhar umas com as outras. Andava naquilo com as raparigas e com a malta e, outras vezes, sozinha nestas brincadeirazinhas. Outras coisas a gente não tinha.